
Ao largo da costa portuguesa encontram-se dezenas de embarcações afundadas em diferentes épocas: rebocadores, cargueiros, navios militares, arrastadeiras e até submarinos. Um paraíso para o mergulho recreativo, modalidade atrai cada vez mais adeptos.
Só na Europa existem cerca de 3,2 milhões de mergulhadores ativos, segundo dados da Organização Mundial de Turismo. Em Portugal há mais de 50 mil mergulhadores reconhecidos pelas principais agências certificadoras, como a PADI (Professional Association of Diving Instructors). É também um negócio em florescimento. A meia dúzia de escolas e centros de mergulho que existia em Portugal, no início dos anos 1990, cresceu para cerca de 200 atualmente, muito graças ao influxo do turismo. Pedro Oliveira, um dos três portugueses com o nível de "diretor de curso" da PADI, e fundador da Haliotis, a maior escola de mergulho portuguesa em termos de distribuição geográfica, com várias delegações no continente e nas ilhas, considerou que a nível nacional quase 95 % dos clientes são turistas.
No Porto mergulha-se menos porquê?
No Porto, a percentagem de mergulhadores estrangeiros é bastante menor, o que se explica, segundo Pedro Oliveira, pelas condições climatéricas adversas e pela fraca visibilidade submarina, além de que a época de mergulho se restringe ao período entre junho e outubro, ao contrário de outros pontos do país, sobretudo a sul, em que se pode mergulhar durante o ano inteiro.
Mas se a janela de oportunidade é relativamente estreita, são largos os motivos de interesse subaquáticos no capítulo dos naufrágios. A começar pelo submarino alemão que está a 30 metros de profundidade ao largo de Angeiras. O U-Boat 1277 foi afundado intencionalmente pela tripulação no fim da II Guerra. Chegados a terra, os marinheiros alemães apresentaram a rendição ao chefe do posto da Guarda Fiscal de Angeiras, Rudolfo Mesquita.
Um submarino cheio de fanecas
Mais de 70 anos depois, o casco do submarino é habitado por polvos, congros, lavagantes, sapateiras e fanecas - sobretudo fanecas. "Por vezes está absolutamente coberto por cardumes de fanecas", contou ao JN Mário Vasconcelos, instrutor de mergulho de 51 anos que já visitou o U-Boat mais de 50 vezes.
Estas expedições, que geralmente partem da marina de Leça da Palmeira a bordo do "Nemo", embarcação de 7,5 metros, de Casimiro Sampaio, duram cerca de duas horas, sendo que o tempo de imersão no local do submarino varia entre 20 e 30 minutos (conforme as garrafas contenham ar comprimido ou enriquecido). O preço da aventura é de 30euro, sem equipamento, e 50euro, com apetrechamento total.
Há outros naufrágios que podem ser visitados na região do Porto. O vapor Tiber afundou-se ao largo de Vila Chã em 1846; está a 33 metros de profundidade. O "Silver Valley" e o batelão Cantanhede (cujo casco está coberto de anémonas brancas) naufragaram ambos junto à barra do rio Douro e encontram-se a 14 e 27 metros, respetivamente. Há ainda o "Kassamba", cargueiro angolano de 136 metros que se afundou em 1985, a 11 milhas de Leixões. A profundidade a que se encontra, 75 metros, só permite a visita a mergulhadores com nível técnico, obrigatório para todas as imersões a mais de 50 metros. Há todo um mundo fantástico para descobrir no território submarino português.
O parque "Ocean Revival"
A perceção de que os navios naufragados potenciam o turismo na área do mergulho recreativo tem levado diversos países a afundarem intencionalmente uma série de embarcações, com o intuito de criarem os chamados "recifes artificiais", que além de captarem o interesse dos mergulhadores ajudam à proliferação da vida marinha.
Em Portugal, o maior destes "recifes" situa-se ao largo de Portimão, onde foram afundados, entre 2012 e 2013, quatro navios da Marinha Portuguesa - a corveta Oliveira e Carmo, o patrulha oceânico Zambeze, o navio hidrográfico Almeida Carvalho e a fragata Comandante Hermenegildo Capelo. Este parque temático submarino recebeu o nome de "Ocean Revival" e é complementado em terra por um espólio documental patente no Museu de Portimão.
A primeira operação do género em Portugal foi realizada em 2000, ao largo da ilha de Porto Santo, com o afundamento do cargueiro Madeirense, construído na década de 1960. E, muito recentemente, uma nova embarcação veio aumentar a oferta submarina do arquipélago da Madeira - a corveta General Pereira d"Eça. Note-se que estes navios não vão
