
Uma primeira edição de Os Lusíadas no Ateneu Comercial do Porto
Artur Machado / Global Imagens
O Ateneu Comercial do Porto recebeu nos últimos dias uma proposta de 300 mil euros da Livraria Lello para a compra do exemplar de "Os Lusíadas" que tem na sua posse.
A proposta cobre não apenas os 250 mil euros que faziam parte da Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada a 13 de janeiro, por ocasião das comemorações do 113.º aniversário da livraria portuense, mas contempla também um reforço de 50 mil euros. Esse montante destina-se à abertura de um fundo que tem por objetivo o restauro da valiosa biblioteca do Ateneu, parcialmente em risco devido à falta de verbas para a sua recuperação e manutenção.
"Aberto ao contributo das forças vivas e dos cidadãos do Porto", o movimento público pretende "captar os recursos necessários para que o Ateneu possa devolver a sua vasta e prolífica biblioteca à comunidade e, de forma mais vasta, aos portuenses, cuidando do restauro desses milhares de volumes e da concretização das melhores condições para que os mesmos possam ser acedidos, manuseados, contemplados e, sim, lidos", como é possível ler na proposta a que o JN teve acesso.
A OPA lançada pela Lello - que incidiu ainda sobre as primeiras edições de "Harry Potter e a pedra filosofal" e "A Gazeta da Restauração" - terminou no final da semana passada, embora o resultado só vá ser divulgado nos próximos meses, em ocasiões distintas (10 de junho para "Os Lusíadas"; 3 de maio, Dia da Liberdade de Imprensa, para o primeiro periódico português; e 31 de julho, aniversário da célebre criação de J. K. Rowling).
Tal como se esperava, foi em torno da obra maior da portugalidade que se gerou um interesse maior. À Lello chegaram, como o JN divulgou, "para cima de uma centena de contactos", mas as possibilidades mais sérias de compra foram apenas três. A primeira oferta seria descartada pela comissão técnica de avaliação devido ao estado deficitário de conservação.
Neste momento, são duas as possibilidades de compra, mas em ambas a livraria portuense está a enfrentar resistência por parte dos proprietários. É o caso do Ateneu Comercial do Porto (ler caixa), cujo presidente remete uma decisão para a assembleia geral a realizar até final de abril. As reservas de Rogério Gomes prendem-se com o facto de pretender criar em breve um roteiro expositivo no qual "Os Lusíadas" serão a peça de maior visibilidade.
Além do Ateneu, a Lello contactou também um colecionador privado do Porto que tem um exemplar intacto, embora também aqui as hipóteses de que o negócio vá por diante sejam escassas.
Exemplar não está à venda, mas sócios decidem
O presidente do Ateneu Comercial do Porto remeteu uma resposta à OPA da Lello para o final de abril, altura em que os sócios vão votar o relatório de contas relativo ao ano passado.
"O nosso exemplar não está à venda", reforçou Rogério Gomes, sublinhando, todavia, que "são os sócios que decidem". A nível pessoal, o presidente do Ateneu afirmou ser "contra a venda", dado "que esse exemplar é a nossa "joia da coroa"".
