
O excêntrico Changuito e a sua "filha"
Leonardo Negrão/Global Imagens
Após seis anos de ausência, Mário Guerra volta a abrir a livraria na Lapa.
Entre uma cerveja e um cigarro, Changuito, ou Mário Guerra, o livreiro a quem já chamaram D. Quixote, anuncia que a Poesia Incompleta vai reabrir. Sim, a livraria de Lisboa dedicada à poesia, que abriu em 2008 e fechou em 2012 "sem dívidas e sem dúvidas", abre portas na próxima semana.
Mário não diz o dia e está ainda a catalogar os livros. Milhares espalhados numa sala ampla da Rua de São Ciro, na Lapa, com um minipalco para leituras e outras deambulações. Milhares, entre mais de 25 línguas, como russo, árabe, japonês, e o mesmo modelo de sempre: edições de autor, primeiras edições, novidades e manuseados. Obras que não encontra em lado nenhum.
De facto, "dois acontecimentos marcam 2018 em Lisboa, a reabertura do Elefante Branco e a Poesia Incompleta", atira, matreiro, o livreiro que pediu para vestir a camisola do Sporting antes de deixar-se fotografar. E, para já, a Poesia Incompleta tem marcada ainda para outubro uma sessão de leitura "com um mexicano estudioso de Pessoa".
As "tédio talks" - porque "o tédio é preciso", porque "é preciso criar" - pontuarão o caminho desta livraria que se quer de vida longa, já que "a nossa poesia é melhor do que o nosso teatro, é melhor que o nosso cinema" e porque "é a mais elevada expressão da linguagem", perora, entre mais um cigarrito e uma cerveja que tira de um lugar misterioso atrás das vestes pretas do palco.
Começar tudo de novo
Changuito começa tudo de novo, depois de uma prolongada ausência. Quando partiu, a Poesia Incompleta era um sucesso contra todas as probabilidades. Foi para o Brasil, " o maior erro a nível profissional", abriu por lá a livraria com dificuldades incontáveis e voltou. Há três anos. Foi gerir um restaurante, até que decidiu reabrir portas, "porque estava cansado de estar em pé".
Ali, no n.º 26 de São Ciro, na companhia do livreiro que também é contabilista, senhor da limpeza e porteiro, e da sua "filha" (uma boneca do artista plástico Carlos Ramalho), encontra nomes como João Paulo Esteves da Silva ou... enfim... encontra milhares de nomes e cérebros "com mais do que uma assoalhada".
Entretanto, pode espreitar o blogue da livraria, a página no Instagram e na rede social Facebook.
