
"Chu" é um livro delicioso
D.R.
O detective cibopata Tony Chu está de regresso com a irmã Safro, no álbum "Chu", de John Layman e Dan Boultwood. Entre comezainas, trincadelas e refeições partilhadas, os leitores de estômago forte passam aqui umas horas divertidas.
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Há quase uma década, Tony Chu ("Chew", no original, como "mastigar") era apresentado aos leitores portugueses. Detetive da FDA, a agência responsável por proteger a saúde pública nos EUA, apresenta uma particularidade: é um cibopata, que é como quem diz, consegue adquirir impressões psíquicas do que come, seja um vegetal ou um humano. Por isso, resolveu muitos roubos e assassinatos à dentada - literalmente.
Agora, a editora G. Floy introduz Chu, Safron Chu. Que, por sua vez, é uma cibocomparte, o que significa que descobre os segredos das pessoas com quem come os mesmos alimentos ao mesmo tempo. Safron é irmã de Tony, mas está do outro lado da Lei. Por isso, o díptico "Entrada/Mau vinho", recém-chegado às livrarias, traz-nos um inevitável confronto entre os dois.
O argumento de John Layman é divertido, dinâmico, aqui e ali explicitamente violento e apresenta diversas surpresas, entre elas o facto de continuar a grassar nos Estados Unidos, onde a ação decorre, bem como por todo o mundo, uma mortífera epidemia de aves, com consequências desastrosas para alguns. Além disso, vamos conhecer outras personagens com curiosas capacidades degustativas, que fazem de "Chu", tanto um manjar quanto um repulsivo alimento, conforme a sensibilidade de cada um.
Ultrapassada a "Entrada", a prova de "Mau Vinho", segundo relato deste suculento volume, transporta Safron à França de há 200 anos, para levar a cabo um ousado e inimaginável roubo, num enredo bem conseguido, com vários saltos temporais e de desfecho inesperado.
Se Layman continua responsável por elaborar a ementa, que é como quem diz, por escrever as histórias, Dan Boultwood substituiu Rob Guillory na sua apresentação... gráfica, tarefa que desempenha com distinção - o seu traço é agradável, detalhado quanto baste e muito dinâmico e expressivo, complementando de forma muito feliz a vivacidade do argumento, tornando-o apetitoso para os olhos.
Entre comezainas, trincadelas e refeições partilhadas, os leitores de estômago forte vão poder passar umas horas bem divertidas num relato em que o tom policial anda lado a lado com um humor delicioso - ou enjoativo, depende do paladar de cada um.
