
Narrativa abarca dois séculos de histórias
D.R.
Dezasseis autores de referência da BD mundial dão corpo a um projeto original de Tiburce Oger.
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Dos tempos dos confrontos entre franceses e britânicos até às vésperas da II Guerra Mundial, "Go west young man", acabado de editar em português pela Gradiva, traça uma história do Oeste norte-americano ao ritmo do tiquetaque de um relógio de ouro que vai passando de mão em mão.
Na verdade, este álbum, que assenta numa estrutura não original mas poucas vezes utilizada desta forma, é uma coletânea de histórias curtas que vão saltitando no tempo ao longo dos quase dois séculos que o livro abarca. Unidas pelo tal relógio cujo proprietário, protagonista de um único conto, mas muitas vezes referenciado nos seguintes, vai mudando, quase sempre por razões pontuadas pela violência que associamos facilmente aos tempos da sangrenta conquista do Oeste selvagem.
Inicialmente oferecido por uma esposa a um oficial britânico, passaria pelas mãos de homens e mulheres, adultos e crianças, brancos, negros ou peles-vermelhas, pobres e mais abonados, gente com formação ou sem ela, personalidades de alguma importância, lendas do velho Oeste ou gente anónima, tendo todos eles, a determinada altura, a possibilidade de ter como seu o aparelho usado para conhecer as horas e de pertencer assim a uma longa mas involuntária cadeia humana.
A vida como a morte, a solidariedade como o desprezo, o respeito como o insulto, situações banais do quotidiano, assaltos, vinganças, emboscadas ou tiroteios são os inevitáveis condimentos de um conjunto de histórias, que até podem ser lidas de forma isolada e primam pela diversidade e pelo inesperado, mas que, apesar disso, ostentam uma coerência e uma continuidade narrativa que deve ser realçada.
Projeto de Tiburce Oger, argumentista e desenhador francês, apresenta também como particularidade o facto de cada um dos dezasseis relatos estar entregue a um ilustrador diferente, contando-se entre eles nomes de referência na banda desenhada franco-belga bem conhecidos dos leitores portugueses como Michel Blanc-Dumont, Ralph Meyer, François Boucq, Michel e Corentin Rouge, Christian Rossi ou Marini (que assina a capa).
Se na prancha de abertura alguém refere que "só Deus sabe as histórias que [o relógio] poderia contar", agora, nós também, omnipresentes leitores, as podemos conhecer.
