Festas gratuitas de verão são investimento pesado para as câmaras e até há cláusulas de exclusividade que impedem artistas de atuar nas terras vizinhas.
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Os principais artistas nacionais faturam dezenas de milhares de euros em cachê por cada concerto que dão em Portugal. São as câmaras que pagam grande parte dos concertos, sobretudo para festas de verão de entrada gratuita, mas nem por isso o valor despendido pelos cofres públicos é baixo. Tudo para atrair público e assegurar o sucesso da festa. Tony Carreira é o que mais cobra e nestes valores nem está incluído o custo da produção do concerto, como palco, som e luzes.
Uma análise aos contratos mencionados no portal "base.gov", onde constam todos os ajustes diretos efetuados pelas câmaras, permite saber com exatidão qual é o preço de tabela dos principais artistas nacionais. Em alguns casos, se não fosse este site, os cachês de alguns músicos seriam uma espécie de "segredo de Estado", uma vez que há agências que os representam que não dizem à imprensa quanto cobram por concerto, nem as produtoras falam abertamente sobre o assunto. Aliás, só três dos dez artistas mais caros revelaram o valor, apesar de todos terem sido contactados.
O JN calculou a média dos cachês recebidos desde o verão passado e cruzou-os com dados de três produtoras de espetáculos, que preferiram não dar a cara. "É um meio pequeno onde todos se conhecem e eles não querem tornar isso público", refere um produtor.
Contas feitas, é possível perceber que Tony Carreira é o cantor nacional que cobra mais de cachê por cada concerto: 39 mil euros desde 2017. Foi assim em Pampilhosa da Serra, Oliveira do Bairro, Ponte de Lima, Lamego, Idanha-a-Nova e Penacova, todas com cachê de 39 mil euros. Recentemente, Tony Carreira anunciou "uma pausa na carreira, não havendo data de regresso", disse fonte oficial do cantor que estreia o filme "TONY" a 25 de julho.
Pouco abaixo estão os Xutos & Pontapés. A banda é uma das mais transparentes no que aos cachês diz respeito e revelou sem problemas, ao JN, que o valor é de 37 mil euros por concerto, tendo 25 agendados até ao final do ano. Foi este o valor pago pela Câmara do Crato, Gouveia, Ourém e Montemor-o-Novo, entre outras, no ano passado.
A representante de "Xutos" é a mesma dos Resistência, que cobram 28 mil euros e tem 18 concertos até ao fim do ano. "O cachê normalmente é sempre igual, não varia", refere fonte oficial das bandas. Este é um caso raro, pois negociar o preço também faz parte desta indústria e há vários fatores que podem influenciá-lo (ler ao lado). Há quem imponha, até, cláusulas que impedem o artista de atuar no município vizinho.
A completar o top 3 está Mariza. "O fado entrou de vez no rol de principais concertos das festas de cidade", conclui um produtor ao JN, e isso reflete-se no preço. Um cachê de 35 mil euros é o que espera quem quiser contratar a fadista mais cara e foi esse o valor pago por Albergaria-a-Velha e Olhão, já este ano.
"NÃO É UM CONTO DE FADAS"
Apesar das verbas de dezenas de milhares de euros, andar na estrada "não é um conto de fadas", revela John Gonçalves, teclista e baixista dos The Gift. O conjunto de Alcobaça tem cerca de 30 espetáculos até ao fim do ano e isso implica mover uma autêntica máquina de norte a sul do país. "Somos 17 pessoas na estrada, as pessoas têm de ser pagas e temos de pensar que só daqui a um ano é que é verão outra vez".
Apesar do preço de tabela de 20 mil euros, os The Gift fazem salas mais pequenas a um preço mais baixo, que pode baixar ainda mais se forem convidados para uma região do país onde já não vão há muito tempo. Para eles, esta gestão geográfica "influencia mais que o dinheiro", adianta o músico.
O que faz variar o cachê?
Exclusividade
Nem todos os músicos a aceitam. Há câmaras que impõem uma condição contratual que proíbe o artista de atuar nesse verão num dos municípios vizinhos.
Duração
Quanto maior é o concerto, mais caro fica, e vice-versa. Mas há conjuntos que têm o alinhamento definido de forma restrita.
Local
Os cachês de um concerto ao ar livre e num teatro ou Coliseu são diferentes. Nas salas mais pequenas, o cachê chega a descer para metade.
Momento
Se editou um álbum ou um single que fez sucesso, o preço aumenta durante esse verão e pode baixar novamente no seguinte. Matias Damásio, a cobrar cerca de 20 mil euros, pedia metade disso há dois anos.
Deslocação
Há grupos que aproveitam as viagens ao Norte e ao Sul do país para agendar mais do que um concerto a preços mais baixos. Como a viagem representa uma grande despesa para os conjuntos, esse fator dirime-se na segunda ou terceira data agendada, que sai mais barata.
TOP
Tony Carreira - 39 mil euros
Xutos & Pontapés - 37 mil euros
Mariza - 35 mil euros
Rui Veloso - 30 mil euros
Anselmo Ralph - 28 mil euros
Pedro Abrunhosa - 25 mil euros
Resistência - 25 mil euros
Ana Moura - 23 mil euros
The Gift - 20 mil euros
Matias Damásio - 20 mil euros