Ator português é um dos protagonistas da nova série de Álex Pina, criador de "A casa de papel". "White Lines" estreia-se hoje, na Netflix
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Físico cheio, cabelo muito lambido, barba densa e metais sobre roupa escura, apesar da luz mediterrânica, compõem Nuno Lopes a ser Boxer, capanga de uma família poderosa e duvidosa, que reina na noite de Ibiza. Mas é preciso notar que Boxer é também Nuno Lopes, ator português que não abdica de caminhar em cima da linha que traçou para o aperfeiçoamento da sua arte, em permanente mutação e crescimento, pouco importa a dimensão do projeto em que trabalha. Só faz "o que gostaria de ver como espectador", garante, ao JN.
Isso torna ainda mais difícil a sua profissão ("É duro? Muitas vezes é duro", reconhece) embora haja recompensa no trabalho de apuramento de personagem. É durante esse estudo que costuma encontrar "a grande felicidade", no momento em que chega ao centro e modo dos seus papéis. Talvez assim se explique porque tentou sempre melhorar a sua personagem em "White lines" - série que se estreia amanhã na Netflix, coproduzida por Álex Pina, de "A casa de papel", e pelos criadores de "The Crown" - ao longo da rodagem de seis meses. "As personagens são máscaras que mostram o ator", diz o artista, que foi escolhido depois de quatro etapas de "casting". Boxer é resultado da imaginação de Álex Pina e da vontade de Nuno Lopes, que introduziu falas que não estavam no guião e outros detalhes inesperados: uma das tatuagens do corpo de Boxer é uma citação do Livro do Desassossego: "O coração, se pudesse pensar, pararia".
Sexo, cocaína e violência
Os "spoilers" estão proibidos, mas toda a gente sabe que para se ser um capanga é preciso determinadas qualidades. Boxer - e o mérito é do português, capaz de se desfazer em sorrisos ou de ameaçar com agressividade - mantém-nos, no entanto, a duvidar sobre a sua natureza. Especialmente quando partilha o ecrã com Zoe (Laura Haddock), protagonista que chega a Ibiza para descobrir o que aconteceu ao seu irmão, um DJ que largou Manchester para tentar a sua sorte na ilha espanhola.
Estava desaparecido há 20 anos e o seu corpo foi encontrado, em terrenos da família Calafat, dona de um império de discotecas e apoquentada por relações bizarras: o patriarca fez um funeral do seu cão; a matriarca usa o sexo para ter o padre da família do seu lado; e o filho mais velho frequenta orgias.
Zoey e Boxer criam uma união inesperada que nos vai conduzindo por esta narrativa, dividida entre o Reino Unido e Espanha, e contada a dois tempos. É um "thriller" sobre tráfico de cocaína, com violência gráfica e psicológica.
Com participações menos expressivas de de outros dois atores portugueses (Paulo Pires e Rafael Morais), é também uma comédia, ainda que negra. E é mais um passo firme na carreira de Nuno Lopes, ator elástico que encontra sempre maneira de nos convencer, seja na maluqueira de "Os contemporâneos" (2008), nos dramas de autor realizados por Marco Martins, como "São Jorge", que lhe valeu um prémio de representação no Festival de Veneza, em 2016, ou neste provável sucesso internacional.