A crise está a encostar os portugueses à parede. Não há boas notícias nem um prazo para se perceber quando o sufoco acaba. O Serviço Nacional de Saúde leva com o impacto como nenhum outro: mais consultas hospitalares, mais internamentos e maior consumo de medicamentos - sobretudo os que estão ligados a situações de ansiedade e depressão. Há alguma forma de travar esta escalada?
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Deixamos nesta edição duas pistas: por um lado tornar mais rigoroso o fornecimento deste tipo de medicamentos por existirem outras soluções para ajudar as pessoas a suportar este período difícil.
Por outro, alguns conselhos, como o de Purificação Tavares: "A saúde depende mais dos hábitos que dos excessos esporádicos". Portanto, não faz bem a ninguém andar sempre a pensar que o mundo vai acabar amanhã. Há de haver uma solução para a crise.
[perguntas]
[1] Que medida pública pode ser tomada para evitar a subida do consumo de medicamentos relacionados com a angústia e ansiedade?
[2] Da sua experiência quotidiana relacionada com a Saúde, que factor (Ex: nos serviços, patologias, relação com as pessoas) se agravou por causa da crise?
[3] Que conselho daria aos leitores, no âmbito da saúde, para um ano de 2013 melhor vivido?
[respostas]
Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde
[1] É muito difícil mudar comportamentos de consumo em muito pouco tempo, mesmo que seja o consumo de medicamentos. Primeiro, porque os grandes responsáveis pela toma de remédios são os próprios médicos que devem prescrever os fármacos essenciais para cada caso e evitassem entrar na aceitação, se não no incitamento, ao seu consumo. Talvez o período de crise que atravessamos pudesse ser uma boa ajuda à contenção deste consumo.
[2] Todos teremos a tendência de afirmar que há um aumento de consumo de antidepressivos e tranquilizantes devido à crise social que atravessamos. Julgo no entanto que, pelo menos por enquanto, é difícil afirmar isto com certeza comprovada~.
[3] Comer mais fruta, vegetais e peixe o que, além de ser mais saudável, pode ser mais económico. E ter muita coragem!
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S.João
[1] Prescrevê-los apenas nas situações clínicas em que estão indicados.
[2] Maior pressão sobre o internamento hospitalar por falta de resposta social (como sempre acontece nas situações de crise económica).
[3] Independentemente do ano em causa, a resposta a esta questão exige uma abordagem que ultrapassa o limite do espaço disponível neste barómetro.
Isabel Vaz, presidente da Comissão Executiva da Espírito Santo Saúde
[1] Promover e incentivar hábitos de vida saudável e a prática de desportos baratos, como fazer caminhadas, sair de casa e conviver mais ao ar livre. Aproveitar o melhor possível o excelente clima que temos no nosso país.
[2] A ideia de que podem estar mais desprotegidas em termos de acessibilidade, o que não corresponde à verdade.
[3] Fazer prevenção, indo regularmente ao médico de família, em vez de só recorrer aos serviços de saúde em momentos de crise ou doença aguda.
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] Temo que haja abuso de utilização. Não sei se este é um problema real ou se apenas necessitamos de melhor informação e educação, tanto dos cidadãos como dos profissionais.
[2] É óbvio que com menos cerca de dois mil milhões de euros no orçamento da saúde não é possível manter o mesmo serviço. Todos os factores serão afectados, incluindo a relação entre profissionais e doentes.
[3] Impõe-se uma utilização mais criteriosa dos cuidados de saúde, evitando desperdício.
Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e Prof. da Fac. Farm. Univ. Porto
[1] Uma política de relançamento da esperança, por actos e palavras, ao menos isso. Já nem digo relançamento da economia que esse está, por agora, limitado pelos credores, infelizmente. É a velha alegoria da luz ao fundo do túnel.
[2] Piorou a saúde das pessoas e das famílias e piorou a coesão social. Com os correlativos agravamentos dos índices de consumo de cuidados de saúde e, naturalmente, de medicamentos.
[3] Ouçam o vosso farmacêutico.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] A angústia, dependente de factores que não podemos controlar, só pode ser minimizada com boa comunicação e transparência.
[2] Agravou-se a manifestação física da ansiedade.
[3] A saúde depende mais dos hábitos que dos excessos esporádicos.
Nuno Sousa, diretor do curso de medicina da Universidade do Minho
[1] Investir decisivamente na educação/cultura e na investigação/inovação. Só isso dará esperança para acreditar que há luz no fundo do túnel!
[2] Há carências básicas muito mais evidentes na população em geral que se começam a refletir na Saúde das pessoas. Registo ainda para uma maior crispação na relação entre as pessoas.
[3] Cuidem da vossa saúde, fazendo exercício físico e sendo felizes.
