Esta edição do Barómetro da Educação coloca três questões pragmáticas: há professores sistematicamente precários porque o Estado não quer correr o risco de os colocar no quadro?
Outro ponto crítico: podem/devem os politécnicos assumir os novos Cursos de Especialização Tecnológica - mais curtos que as licenciaturas - mas com um maior foco prático vocacionado para quadros intermédios?
Por fim, a Cultura. Talvez a maior vítima do processo recessivo da economia. O recente estudo sobre o que significa Serralves para o país demonstra a criação de 1300 postos de trabalho diretos e indiretos, além da fixação de talentos em Portugal (e no Norte). Há ainda o valor da criação de fatores intangíveis de competitividade que se disseminam no tecido produtivo. Para quando a 'legalização' da Cultura como atividade económica?
[perguntas]
[1] É legítimo que o Estado possa usar a flexibilidade de contratar por ano milhares de professores em contratos a termo?
[2] A Cultura está a ser demasiadamente desvalorizada como criadora de emprego?
[3] Faz sentido a pré-proposta do Governo de criar cursos mais curtos e ligados ao mundo laboral no ensino politécnico?
[respostas]
Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais
[1] Não, não é! Isto resulta da incapacidade política de negociar a contratação de professores pelas escolas. garantido o respeito pela carreira e a justiça e transparência no modelo.
[2] Infelizmente o governo crê que salvará o País aumentando o número de pobres, E se o País "aguenta" esta política de rendimentos, também "aguenta" sem cultura...
[3] A ideia de alargar e valorizar os CET foi bem enunciada e, assim, pode vir a resultar como via de qualificação de nível 5.
Luís Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] Legítimo é, embora não seja bonito.
[2] A Cultura tem retorno económico. No recente estudo sobre o impacto económico de Serralves, o emprego direto, indireto e induzido quantificado é de 1300, num valor de 21 milhões de euros de volume salarial!
[3] Os CET (Cursos de Especialização Tecnológica) podem e devem ser ministrados nos politécnicos.
Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica
[1] Há e tem de haver rigidez e flexibilidade na gestão de um sistema tão gigantesco. Outra questão é o controlo local dos quadros de cada escola, que quanto mais descentralizado melhor pode ser gerido.
[2] A sociedade está a criar novos emprego nas "industrias criativas", por intuição e necessidade, muito mais do que por apoio estratégico do Governo.
[3] O politécnico tudo deve fazer para se valorizar, articulando-se tanto com a economia regional como com as Universidades.
Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto
[1] Sem estabilidade profissional dos professores será muito difícil garantir a qualidade e a eficiência necessárias do sistema educativo. Estabilidade profissional a par de formação, inicial e permanente, de qualidade dos professores são determinantes para melhorar os resultados escolares deste país!
[2] É necessário encontrar um modelo de sustentabilidade para as atividades culturais, com apoio do estado, suficiente e previsível, àquelas que são essenciais à sociedade e que pela sua natureza muito dificilmente podem ser auto suficientes.
[3] Existindo já os cursos pós secundários, Cursos de Especialização Tecnológica (CET), só se compreenderá se for uma extensão a outras áreas deste tipo de curso. Ou então serão extintos os CETs e criada nova modalidade de curso superior curto!
Luís Rebelo, representante dos estudantes universitários no Conselho Nacional de Educação
[1] O Estado não aferir a priori as necessidades de docentes a curto e longo prazo torna o problema mais grave. Mas a questão está mais na anualidade do que no termo: a 5 ou 10 anos seria mais justo.
[2] Demasiadas vezes os gastos de entidades públicas com Cultura provocam o efeito perverso de tornar o setor criativo insustentável para os privados: nestes casos ao invés de o estimular, atrofia-o.
[3] Ciclos curtos sem uma verdadeira reforma do sistema são uma medida muito pobre.
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Neste momento com o número de professores que existem e as necessidades das escolas parece-me que não há alternativa. A baixa natalidade vai também ter um efeito no futuro na estabilidade da atividade docente.
[2] Não existe qualquer política de valorização ou promoção de atividades culturais, que em muitos Países são geradoras de valor e de emprego.
[3] Sim, se for capaz de atingir públicos-alvo e não desvalorizar a missão dos Politécnicos.
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] A escola de qualidade constrói-se a partir da estabilidade dos docentes. A maioria dos professores deve pertencer-lhe. Os restantes lugares devem permitir o permanente ajuste e renovação face às necessidades educativas.
[2] Claramente. Mesmo enquanto alma mater da nossa identidade, a cultura pode e deve ser, também, um atrativo produto.
[3] Faz. Os ciclos de estudos superiores de curta duração existem por toda a europa com muito sucesso e estão previstos na nossa lei.
