Nesta edição, a pergunta: que ambiente interno nas universidades? As imagens do ex-ministro Miguel Relvas a ser 'expulso' de uma faculdade, em Lisboa, marcou o nosso tempo recente. As respostas aqui estão, para todos os quadrantes: sim, há um ambiente de revolta nas instituições do ensino superior. Ou, noutras opiniões, não, não há esse ambiente. Por isso esta amostra de respostas reflete uma média: algo não está bem, ainda que não estejamos perto de uma explosão descontrolada.
A demissão do ministro Relvas talvez apazigúe os ânimos durante umas semanas porque termina a afronta, personalizada, de alguém que obteve um grau académico através de equivalências, sem exames, a 32 das 36 disciplinas do curso. Mas os cortes na despesa do Estado vão acabar por chegar à Educação. E aí ver-se-á o que o futuro nos reserva.
[perguntas]
[1] A acentuada redução da natalidade coloca a profissão de professor cada vez mais em risco ou há outras oportunidades a surgir para quem quer dar aulas?
[2] Há, nas instituições de ensino superior que conhece, um generalizado ambiente de rebelião iminente contra o Governo ou contra o sistema económico defendido pela troika?
[respostas]
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] O impacto da redução da natalidade deve ser encarado de maneira transversal e não apenas focado na educação e nos professores, pois é uma questão crítica na sociedade portuguesa e que a crise tem acentuado. Faria sentido estudar os bons exemplos de países com políticas natalistas activas e tirar conclusões.
[2] Quando as previsões falham e a esperança se perde é indispensável uma atitude de maior disponibilidade de espírito e humildade para reconhecer que vale a pena pensar antes de insistir na mesma linha de soluções. Um maior desaponta-mento dos académicos estará no facto da sua capacidade para reflectir e propor soluções não estar a ser devidamente valorizada. Desafiem as universidades que elas são capazes de produzir respostas inovadoras, surpreendentes e úteis.
Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais
[1] Coloca em risco e não há oportunidades por decisão política (aumento do número de alunos por turma) e pela recente emigração de casais jovens.
[2] Contra a Troika e contra o Governo, por não estar a fazer o que devia pelo interesse nacional.
Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica
[1] Os professores poderiam ter outras oportunidades se houvesse outro tipo de prioridades políticas, dentro de um quadro geral de restrição orçamental. Deste modo, creio que não, a não ser que o queiram e possam fazer fora do país.
[2] Não o vejo nem pressinto. Contra a situação atual já todos somos; em nome de que alternativa é que nos mobilizamos? Não está fácil. As sociedades de hoje são como fachadas de Igrejas cobertas a azulejo, em que cada um tem a sua cor e formato.
Luís Rebelo, representante dos estudantes do Ens. Sup. no Cons. Nacional de Educação
[1] Ambas: que sem alunos os professores não leccionam é inegável, e o nosso problema de natalidade é crónico; mas poderia haver melhor aproveitamento dos professores no combate (urgente) ao abandono e ao insucesso escolar.
[2] Não, porque é dos setores menos atingidos (e mais protegido!) pelas consequências e esforços da crise, com exceção dos estudantes. Resistindo a qualquer reforma no funcionamento, não se adaptou nem partilha os esforços que deviam ser de todos.
Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto
[1] A profissão de professor não está em risco! Professores são essenciais para assegurar: formação dos estudantes que resultem da redução do abandono escolar que urge concretizar; formação ao longo da vida, essencial nos dias de hoje, incluindo qualificação de grande parte da atual população sem emprego.
[2] Compreendendo e aceitando que devem participar na recuperação do país, há grande descontentamento contra muitas medidas, em particular o aumento exponencial da burocracia.
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Coloca. Mas pode ser uma oportunidade para ter professores que realmente querem sê-lo e de optimizar dimensões de turmas, apoios extra-curriculares...
[2] Há relativamente à desconsideração constante que tem existido para os assuntos de ES e de C&T. A ideia de que as Universidades vivem à custa do OGE é totalmente errada! Não se pode fazer ciência com um governo que tem um discurso que fala de excelência, mas tem uma prática que não isenta a C&T e o ES da lei dos compromissos!
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] A baixa natalidade não desaba apenas sobre os professores mas sobre o país: sobre os trolhas, médicos, engenheiros, eletricistas, bancos, hospitais e empresas. Desaba sobre a sociedade, sobre a economia e sobre cada um de nós.
[2] Há total intolerância aos políticos e às políticas que, nas últimas dezenas de anos, nos trouxeram a esta encruzilhada, filha da corrupção, da incompetência, do compadrio, das quais os partidos são hoje o principal baluarte. Urge resgatar a democracia.
