Os novos cortes do Governo à Casa da Música merecem uma reprovação unânime dos membros do Barómetro Educação JN. Da mais branda posição, de Joaquim Azevedo, da Católica - "se há de facto falta de palavra, isso é grave porque a palavra é o princípio central da confiança", até ao "absolutamente incomprensível" do reitor da Universidade do Porto, o tom é de estupefação.
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves, lembra que "nos tempos de crise o Estado deve atribuir mais valor à Cultura" e Rui Reis, da Universidade do Minho, reforça essa ideia: "Associar as palavras cultura com o Norte e o Porto, duas coisas que este governo respeita muito pouco, só podia dar em nem sequer se fazer o que se "apalavrou"!". Posto isto: facto consumado? Ou alguém responde pela falta de respeito ao acordado?
[perguntas]
[1] Concorda que as empresas tenham de pagar aos alunos que necessitam de estágios de formação à saída do ensino?
[2] Como entender a falta de palavra do Estado na Casa da Música?
[3] Que livro aconselharia os professores a ler para melhores resultados pedagógicos?
[respostas]
Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais
[1] Os estágios, por exemplo, com que terminam alguns cursos tecnológicos, não são pagos e são uma mais valia reconhecida. Temos de definir bem o modelo que queremos para o Ensino Profissional.
[2] Não se entende pois a Cultura contribui bastante para o PIB nacional, especialmente se articulada com o Turismo nacional e internacional, como estudos recentes comprovam.
[3] Todos os editados pelo programas Fénix, EPIS e "A Escola com que sempre sonhei (e não sabia que existia!)" de Ruben Alves.
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] A aprendizagem dos jovens é um desígnio social que a todos deve implicar e também às empresas. Remunerar trabalho, mesmo que incipiente, é um acto de justiça e uma forma de responsabilizar os dois lados.
[2] Em qualquer tempo e nos de crise em especial, o Estado deve atribuir mais valor à Cultura. É crítico ser fiel a compromissos assumidos e perseverante nos apoios para poder haver previsibilidade na gestão.
[3] Apenas desejo que não desistam de tentar fazer sempre melhor.
Luís Rebelo, representante dos estudantes universitários no Conselho Nacional de Educação
[1] Apenas se forem estágios que complementem a formação obtida e que vão além das competências expectáveis com a formação superior.
[2] Não se entende. Principalmente comparativamente com outras situações que ocorrem em Lisboa.
[3] A Constituição da República Portuguesa pelo défice de cultura de participação em que muitas salas de aula vivem. Num registo diferente, o relatório do Conselho Nacional de Educação - "Estado da Educação" também seria enriquecedor.
Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica
[1] Não concordo.
[2] Não estou por dentro deste dossiê; se há de facto falta de palavra, isso é grave porque a palavra é o princípio central da confiança. Dito isto, seria bom que todos pudessemos cooperar, no contexto de ajustamento que vivemos, para termos instituições saudáveis, sustentáveis e credíveis, tanto nacional como internacionalmente.
[3] A melhoria dos resultados escolares não está nos livros, está nas atitudes, nos comportamentos, na interação e na cooperação, dentro e fora das escolas, está na formação inicial e contínua dos profissionais especialistas em ensino, está no foco, nas prioridades e nas ações das instituições escolares.
Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto
[1] O estágio é, essencialmente, complemento de formação. Mas, frequentemente, o trabalho produzido pelo estagiário é aproveitado pela empresa! Quando assim acontecer, deve haver uma remuneração.
[2] Absolutamente incompreensível. Lamentável que este tipo de procedimento se esteja a transformar no modo normal de atuação de muitos governantes, em vez de se construírem soluções através do diálogo.
[3] Qualquer bom livro para aprofundar o conhecimento científico da matéria que ensinam.
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Deve haver uma remuneração ainda que simbólica. Os estagiários precisam de formação mas trabalham durante o estágio. Ou então não aprendem nada!
[2] Associar as palavras cultura com o Norte e o Porto, duas coisas que este governo respeita muito pouco, só podia dar em nem sequer se fazer o que se "apalavrou"! Temos o Metro, a ANA (que nem sequer mereceu discussão), o Porto de Leixões, a RTP Porto...
[3] Os mais novos deviam ler mais e os mais velhos "passear" mais na internet.
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] O ensino/formação e o tecido económico/social têm de trilhar, com clareza e determinação, um caminho e sentido comuns. Quando lá chegarmos, quem paga os estágios é um mero detalhe.
[2] Como "natural" ou como mais uma "não notícia". O reality show em curso é mais dado à "mercearia" e à "venda a retalho" do que à procura do belo ou do sublime, e não será fácil encontrar inocentes nestas opções.
[3] Aconselharia, mais do que um livro, a leitura como atitude assumida e orientada.
