Alguns dos cortes na Educação geram uma degradação da qualidade que só será aferida mais à frente.
É sabido que não é indiferente ter 20, 25 ou 30 alunos por turma; evitar o abandono escolar prematuro passa por apoiar estudantes com mais dificuldades; mais ou menos línguas estrangeiras, música ou artes parece sempre ser um factor acessório mas cuja ausência revela a prazo uma mão-de-obra sem rasgo nem criatividade. No entanto, o mesmo Governo ou troika que se preocupam em, literalmente, despejar dinheiro nas empresas para garantir 'crescimento' e 'valorização profissional', vão descalçando a possibilidade do país em criar uma nova geração que melhore a economia através dos 'factores intangíveis de competitividade'. A economia é de curto prazo. A educação, de longo prazo. A primeira esmaga quase sempre a segunda.
[perguntas]
[1] O sistema de ensino aguenta o despedimento de milhares de professores - como sugeriu a Troika?
[2] A exemplo do que sucedeu em Lisboa, algumas universidades do Norte deveriam fundir-se?
[3] Vale a pena voltar a discutir o "cheque-ensino"?
[perguntas]
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] Comparando o nosso sistema de ensino com os mais bem sucedidos, conclui-se facilmente que a qualidade da oferta de ensino não depende apenas da quantidade de professores.
[2] A consolidação no ensino superior é necessária por ser factor de racionalização. Mas mais urgente é clarificar o sistema dual que temos e definir a relação entre politécnicos e universidades.
[3] Devem analisar-se os casos bem sucedidos, que dispõem de liberdade de escolha.
Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica
[1] O sistema aguenta, a qualidade do ensino é que não. É possível gastar menos e melhor, mas não com medidas desconexas. Não há uma mesa de trabalho, só há cadeiras desalinhadas.
[2] Todas as instituições de ensino superior deveriam ter critérios, prazos e incentivos de racionalização da rede de estabelecimentos, que é excessiva e ineficiente.
[3] Tem de se discutir um novo modelo de financiamento do ensino superior e os contratos de financiamento das escolas públicas e privadas.
Luís Rebelo, presidente da Federação Académica do Porto
[1] O número de professores deve ter em consideração 3 factores essenciais: qualidade, sustentabilidade financeira e demografia. Qualquer análise que não tome estes 3 parâmetros em consideração será sempre redutora ou incapaz.
[2] De Norte a Sul do país, as instituições devem associar-se ou fundir-se. A eficiência e a especialização são necessárias para a melhor qualidade possível.
[3] Em Portugal existem demasiados tabus. Este é um deles. A discussão sem radicalismos seria positiva.
Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais
[1] Claro que não! O governo devia considerar os bons resultados das avaliações internacionais ao sistema educativo português, em todos os ciclos de ensino, para defender perante a troika a prossecução de políticas, tal como se faz nos países que sabem que a Educação e o ensino precisam de tempo e confiança nas escolas.
[2] Deverão ser as universidades entre si e os institutos politécnicos, a decidir o que fazer para organizar a oferta de ensino superior e politécnico.
[3] Com a geografia da rede de escolas que temos, o "cheque ensino" não poderá ser aplicado em Portugal sem se constituir em factor de fortíssima desigualdade no acesso, levando a impedir a entrada de alguns alunos em muitas escolas, embora alguns sectores "vendam" o contrário.
Marques dos Santos reitor da Universidade do Porto
[1] Sem bons professores não há ensino de qualidade. É necessário garantir que o rácio estudantes/professor é adequado, por parâmetros internacionais, para um país como Portugal.
[2] Urge reestruturar o sistema de ensino superior para melhorar a sua eficiência! Vários processos são possíveis, sendo a fusão um deles. As universidades do Norte devem concertar uma solução adequada para si e para o país!
[3] Só quando a avaliação independente da qualidade da oferta formativa estiver garantida.
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Não. Mas se o sistema de ensino funcionasse melhor, e tivéssemos políticos mais bem educados, se calhar não estávamos sujeitos a sugestões da Troika.
[2] Alguma reorganização (ou fusão) no Porto talvez fosse útil. Interessante que se fale do Norte...Em Lisboa (e não no Sul!) não se pensou em Setúbal, Évora, ou até Costa da Caparica. No Minho temos um projeto próprio, de sucesso, com estratégia, que queremos prosseguir...
[3] É uma boa solução que dá liberdade de escolha às famílias.
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] Não aguenta nem serão despedidos, mas é compulsiva a atração pelos "negócios" que "restam": educação, saúde, justiça ou a água! Serão forçados ao bom senso!
[2] Não houve fusões em Lisboa. A UL sofria de uma malformação congénita: nasceu com as "ciências" a um lado e as "letras" a outro. Corrigiu-a (finalmente) e refundou-se na matriz que é a sua: a universalidade.
[3] A educação é alma da cidadania. Discuta-se tudo o que, com transparência, a torne em direito inalienável.
