Quando os alunos não fizerem o primeiro dia de exames muitos pais vão questionar se havia ou não alternativas menos cáusticas para assinalar a luta dos professores. Porque, como o painel Educação desta edição assinala, não há greves indolores. Mas, para os sindicatos, agudizar as consequências faz parte da visibilidade da luta.
Chegamos aqui, no entanto, porque dificilmente houve um momento tão crítico no sistema educacional após o 25 de Abril. O momento merece uma greve forte com consequências de exceção? Talvez sim. Sabemos, no entanto, que não é a primeira vez que os sindicatos marcam greves para cima dos exames. Eis, portanto, como a atual batalha, porventura justa, está inquinada pelo traquinismo da FENPROF nos anos em que usou os alunos como escudos do sistema e perdeu a credibilidade de que hoje precisaria.
[perguntas]
[1] Concorda com a próxima greve dos professores?
[2] Os exames devem ou não ser afectados pelas paralisações?
[respostas]
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] As greves compreendem-se e respeitam-se, quando se pode. Se a infâmia e o vexame - servidos com um brilhozinho (ideológico) nos olhos - continuarem a perfumar todo o ar que se respira; se continuarem a ser a farinha da qual se faz o pão de fel de cada dia; se se continuar a optar pelo mais fácil - promover os funcionários públicos a um bando esconjurado, carente de purga diária, princípio e fim de todo o mal - isto vindo do vazio total e da total incapacidade de liderança e dum mérito que ninguém descortina nem no projeto, muito menos no trajeto ou no exemplo, assim, as greves tornam-se compreensíveis e respeitáveis.
[2] Quem não deveria ser afetado pelas paralisações são os alunos e as suas famílias. Os professores saberão bem como isso se evita.
Albino Almeida, Conselheiro Nacional de Educação
[1] Compreendo-a, pois a classe docente, ao contrário de outras, como os médicos e os juízes, tem sido tratada de forma inaceitável por medidas políticas sem paralelo nas consequências, mesmo se comparadas, em gravidade, com outras, de governos anteriores.
[2] Com a avaliação interna e sumativa a ser bloqueada de forma eficiente, não se devia afectar jamais a realização dos exames, para não prejudicar os alunos e as famílias que bem percebem as razões dos professores!
Braga da Cruz , presidente da Fundação de Serralves
[1] Não concordo. Não há nada que justifique que os alunos, especialmente os mais novos, sejam instrumentalizados na luta dos professores contra as propostas do Governo.
[2] Aceito que os professores têm legitimidade para fazer greve às aulas, mas entendo que os exames são períodos cruciais no ano escolar, nos quais os alunos precisam de ter estabilidade psicológica e não ser perturbados justamente no momento de síntese da sua avaliação anual.
Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica
[1] A greve é um direito. Os professores têm outros meios de luta que muito raramente mobilizam e, no contexto atual, seria prioritário muito trabalho em torno da re-dignificação profissional.
[2] É uma forma de luta que prejudica muita gente e sem efeitos positivos previsíveis; mas, a mesma pergunta se tem de colocar aos maquinistas dos comboios, aos condutores dos autocarros ou aos comandantes da TAP... Duvido que os portugueses apreciam estas formas
de luta profissional.
Luís Rebelo, Repr. dos Estudantes do Ens. Sup. Universitário no Cons. Nac. de Educação
[1] Os professores têm razões para estarem descontentes e com receio quanto ao seu futuro profissional; e julgo que o diálogo entre tutela, escolas e profissionais deveria ser mais próximo e participado, na procura de soluções mais consensuais ou, pelo menos, muito melhor concertadas. Concordo com o direito à greve, logo considero justificado estes profissionais fazerem greve.
[2] Eu preferiria que a greve fosse feita sem prejudicar as justas expectativas dos alunos.
Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto
[1] Considero a greve um meio legítimo, de último recurso, para defender direitos laborais ameaçados de modo prepotente pela entidade patronal! No entanto, deve haver a preocupação de equilibrar os prejuízos para terceiros com os resultados que se pretende obter. Se tal for acautelado no caso em apreço, concordo com a greve.
[2] Na lógica intrínseca à resposta à questão anterior, considero que os exames não deveriam ser afetados!
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Concordo. A situação dos funcionários públicos e de determinados corpos como os professores, dos diversos graus de ensino, atingiu um nível de degradação nunca vista. A importância desta profissão merecia outra atenção e mais respeito. Mas não deixa de ser interessante ver que com outros governos se fizeram greves e manifestações gigantescas por muito menos!
[2] As greves para terem impacto têm que afetar os alunos e as famílias, mas talvez não seja a melhor atitude.
