Por mais que os tempos mudem, o sistema educativo não tem uma visão à prova de "ministro" ou de partido que toma o poder. Oscila-se entre toda a prioridade aos exames ou nenhuma, foco em disciplinas-base com métodos tradicionais ou, em vez disso, programas contemporâneos adaptados aos novos tempos.
O que se está a passar com os múltiplos exames do Ensino Básico é reflexo disso: o sistema passou a estar orientado para a aprendizagem "auditada" pelos exames. Pedagogicamente, os alunos adquirem mais ou melhores conhecimentos? Os resultados mostram piores resultados. Mas, na verdade, em que resultados se pode confiar se o grau de dificuldade das provas pode fazer variar as médias de ano para ano?
Entretanto, uma proposta pode fazer correr muita tinta: a Confederação de Pais pretende que os segundo e terceiro períodos sejam mais iguais em duração, sem sujeição à Páscoa - quando ela é em abril o terceiro período "desaparece". Há um consenso nacional sobre isto? Mais um caso, aparentemente simples, mas a necessitar de um bom entendimento entre todos. Os próximos tempos mostrarão se tal é possível.
[perguntas]
[1] Os exames, sobretudo os do Ensino Básico, têm uma boa finalidade pedagógica para os alunos ou servem essencialmente para avaliar o sistema educativo?
[2] Faz sentido que o segundo período escolar deixe de ter férias em função da Páscoa para que os segundo e terceiro períodos sejam mais equilibrados?
[respostas]
Albino Almeida, conselheiro nacional de Educação
[1] Atentas as polémicas em que têm estado envolvidos os exames em todos os ciclos do Ensino Básico corresponderam mais a uma agenda partidária do que a evidências pedagógicas.
[2] Considero muito positiva e interessante a proposta de divisão do ano escolar em semestres iguais, com pausas letivas, relativas a festividades, à semelhança do Ensino Superior.
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] As duas coisas são importantes. Os exames levam a que os alunos se habituem a uma cultura de avaliação. Também são úteis para que a sociedade disponha de boas referências sobre o sistema educativo e possa ajuizar dos seus resultados.
[2] A Páscoa, como festividade importante da nossa cultura, merece ser respeitada não me parecendo complexo calibrar os programas escolares com períodos letivos variáveis.
Joaquim Azevedo, docente da Escola das Artes da Católica Porto
[1] Os exames nacionais externos no Ensino Básico, nos moldes em que existem, servem para pouco e prejudicam muito o Ensino Básico. Aliás, os resultados dos alunos têm piorado. E as escolas não podem ser avaliadas apenas por esta via.
[2] Não faz. Nunca esse problema se colocou até hoje, por que é que se coloca agora? Por que se quer disparar para todo o lado? Iremos também legislar sobre a Páscoa? O que precisa de equilíbrio são as políticas.
Maria Arminda Bragança, secretária coordenadora da CPLP-Sindical da Educação
[1] São instrumentos que deverão ser usados na medição e controlo do desempenho de cada aluno para fomentar a melhoria das aprendizagens, das escolas como factor de uma gestão pedagógica eficaz e dos sistemas educativos nacionais como elemento de aferição.
[2] Como o calendário escolar é publicado anualmente, faz todo o sentido jogar com a data da Páscoa e ajustar as interrupções letivas de modo a equilibrar a duração dos 2.º e 3.º períodos, o que beneficia alunos e professores.
Marques dos Santos, professor universitário
[1] Considero que os exames, se bem concebidos, têm uma boa finalidade pedagógica desde que não sejam a única nem a preponderante componente da avaliação dos alunos.
[2] Deve haver uma pausa entre os segundo e o terceiro períodos. Nada obriga a que seja no período da Páscoa! Nesta bastaria haver uma pausa de dois dias úteis, para além do feriado já existente, sendo um deles o dia seguinte ao Domingo de Páscoa!
Rui Reis, investigador e Professor catedrático da Universidade do Minho
Nesta edição não foi possível contar com o contributo de Rui Reis
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] Os exames podem ser úteis tanto aos alunos como ao sistema educativo. Agora, centrar nos exames o fulcro duma estratégia educativa e nos seus resultados o seu maior indicador de sucesso/insucesso é um erro primário que se pagará caro.
[2] "Lisboa" deveria definir o essencial: o início, o fim e um ou outro detalhe do ano escolar. As escolas - professores, famílias, alunos e regiões - o resto à medida do seu projeto educativo. Mas por Lisboa não se respira esta grandeza.
Sebastião Feyo, reitor da Universidade do Porto
[1] A avaliação deve ser percebida como parte do modelo de aprendizagem. Nesse sentido os exames devem ter um objetivo pedagógico. A avaliação do sistema educativo pode incluir a apreciação dos resultados dos exames, mas o objetivo dos exames não pode ser a avaliação do sistema educativo.
[2] Seria importante que os períodos fossem equilibrados, no entanto é sensato parar uma semana na Páscoa, em benefício da tradição e das famílias.
