Há duas hipóteses: ou continuamos a 'exportar' médicos e enfermeiros ou promovemos Portugal como um destino de "turismo terapêutico". Nada de novo: Cuba fá-lo desde há muito, tal como a Índia e outros países, incluindo Espanha. Obviamente, não basta querer. É preciso elevadíssima especialização, qualidade de serviço e preços que seduzam as grandes companhias de seguros.
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E este bem pode ser um dos próximos objectivos do AICEP: focar a negociação diplomática em ações de aproximação aos grandes decisores de compras internacionais no segmento de intervenções cirúrgicas e reabilitação. Temos excelentes médicos, enfermeiros e restante pessoal hospitalar, magníficas universidades, novos hospitais,empresas de tecnologia e medicamentos, além da natureza, águas termais, Sol. O que falta? Fazer as coisas acontecerem.
[perguntas]
[1] Depois do chumbo do Tribunal Constitucional, novos cortes na Saúde são inevitáveis? Em que área?
[2] Em que área da Saúde é Portugal mais inovador e capaz de atrair investimento?
[respostas]
Isabel Vaz, presidente da Comissão Executiva da Espírito Santo Saúde
[1] Mais do que cortes, a área da Saúde ainda tem muito desperdício para eliminar. É um trabalho que nunca acaba. Exemplo paradigmático do que ainda está por fazer: a reorganização hospitalar com diluição de custos fixos e aumento da qualidade assistencial por concentração de cuidados altamente diferenciados.
[2] Formação de profissionais de saúde pré e pós-graduado e sistemas e tecnologias de informação, entre outras.
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] Cortes na saúde ou noutra área é uma opção política. A saúde está mais à mão e os salários e outras remunerações são o mais apetecível e o caminho mais rápido. De resto, não há tempo para uma decisão mais estruturada que permita melhorar a eficiência.
[2] Se falamos do investimento estrangeiro, não me parece que a prestação de cuidados seja muito atraente, mesmo.
Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e prof. da Faculdade Farmácia Univ. Porto
[1] É imperioso avançar com a reforma hospitalar, reorganizando a rede de hospitais e os respectivos serviços, reavaliar a necessidade de certas funções e sujeitar as horas extraordinárias a triagens rigorosíssimas.
[2] O "cluster português da saúde" vem tendo um bom desempenho nas exportações, em particular ao nível dos medicamentos, dispositivos médicos, diagnósticos in vitro e soluções informáticas para a saúde. Admito que estas áreas também possam atrair investimento.
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João
[1] Antes ou depois do chumbo o necessário são reformas: extinção dos subsistemas, exclusividade dos profissionais e reconhecimento do mérito, reforma do internato médico e de todas as carreiras, extinção das ARS substituidas pela ACSS, formulário nacional do medicamento e comparticipação por equivalente terapêutico, inovação dependente de custo do QALY, reprocessamento e reutilização de dispositivos médicos e estandardização dos utilizáveis no SNS, reformas da rede de saúde (encerramentos e concentração de actividades), do modelo de financiamento (conceito de "value for money" e pagamento por doente) e do modelo de gestão, entre outras.
[2] Existem várias ("low-tech" e "high-tech"), com relação preço-qualidade excelente, tanto no sector público como na iniciativa privada.
Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho
[1] Não me parece que seja necessário cortar, na medida em que a doença sai mais cara que a preservação da saúde. Insisto que o enfoque deve ser centrado no aumento da eficácia do sistema e na definição rigorosa de linhas de orientação clínicas nacionais.
[2] Na área da interface entre a monitorização clínica e os dispositivos médicos inovadores.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] Os cortes na Saúde terão de se refletir não nos cuidados, mas na eficiência da prestação. É indispensável um esforço para fazer o mesmo com menos custos.
[2] Os cuidados de Saúde são bons em Portugal, temos excelentes profissionais. Se conseguirmos ser competitivos, poderemos fornecer cuidados ao exterior.
Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde
[1] A errada prioridade financeira da UE torna os cortes inevitáveis. Vão atingir a estrutura, património, parque tecnológico, quadros e formação. O futuro vai obrigar à reconstrução do SNS com custos muito superiores aos cortes! As únicas áreas de poupança seriam uma nova cultura de exercício clínico e uma reforma hospitalar de internamentos considerados tratamentos de execução controlada pelos respectivos diretores.
[2] O investimento surge se não há inovação do SNS.
