Mais um ano, mais falhas enormes de colocação de professores, novas lacunas de pessoal auxiliar, incúria a tratar dos problemas dos mais necessitados - os alunos com problemas educativos especiais. Quem defende a descentralização (regionalização) do Ministério da Educação tem toda a razão. Se este monstro fosse partido aos bocados e colocado sobre tutela das comissões de Coordenação regionais seria certamente muito melhor. É impossível continuar neste sistema.
Culpa de Nuno Crato? Os erros deste ano têm mais estragos porque se baseiam num erro básico na fórmula de cálculo da colocação de professores. Nuno Crato pensou que o Ministério fazia bem o trabalho de casa. Não fez. Como ele é o responsável máximo não se pode eximir à responsabilidade de ficar mal na fotografia, mas este ministro é apenas mais um. De essencial o problema está em gerir milhares de professores todos os anos, como números, sem que a lógica da proximidade e da competência consiga vir à superfície. Impossível para quem gere isto a partir da Avenida 24 de Julho em Lisboa - uma máquina tecnocrática a que só a ex-União Soviética faz jus.
Sem ilusões, todos os anos, as aulas começam cheias de furos e com a honra das escolas e dos pais na lama. E algo vai mudar? Não. Não vai. Por isso os alunos sonham sair de Portugal. Talvez para sempre.
[perguntas]
[1] Quase metade dos alunos universitários acredita que em 2020 estará a trabalhar fora de Portugal. Porquê?
[2] O erro do Ministério da Educação na colocação de professores deste ano é mais grave do que o habitual?
[respostas]
Albino Almeida, Conselheiro Nacional de Educação
[1] As universidades têm vindo a ser cada vez mais reconhecidas a nível mundial. Os alunos têm condições de competir e vencer os desafios profissionais de aplicação do conhecimento no plano global.
[2] É mais grave porque tem como consequência muitas escolas, turmas e alunos sem professores num sistema educativo pejado de exames de fim de ciclo perante os quais muitos alunos partem em situação de desigualdade! O rigor e a exigência propalados pelo MEC são, afinal, palavras ocas!
Braga da cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] Trabalhar no exterior não é mau para os jovens, mas quando o fenómeno assume esta dimensão é preocupante. Em períodos de crise, como aquela que vivemos, os decisores têm de ter em conta estes impactos nas suas avaliações políticas e propor soluções de mitigação.
[2] Nada a que não estivéssemos habituados. Para quando uma descentralização regional da colocação de professores,como acontece em tantos países, mesmo de menor dimensão que o nosso e com melhores resultados?
Joaquim Azevedo docente da Escola das Artes da Católica Porto
[1] O país não vai ter condições para garantir adequadas condições de trabalho para grande parte da "geração mais qualificada", por isso é melhor que as expectativas sejam conformes. As escolhas políticas do país é que vão ter de mudar de rumo e isso é o que a nova geração tem de perceber e, de seguida, agir.
[2] Sim.
Maria Arminda Bragança, secretária coordenadora da CPLP-Sindical da Educação
[1] As políticas de emprego não foram suficientemente eficazes de modo a criar condições que garantam, a médio/curto prazo, que o mercado de trabalho absorva a maioria dos licenciados das nossas universidades. É natural que projetem a saída do país!
[2] Mais um ano letivo que começa com perturbação! Se é mais grave ou não do que nos anos anteriores não é importante! O que é relevante é questionar o MEC sobre este facto que vem acontecendo sucessivamente todos os anos.
Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto
[1] Resulta do desânimo instalado em Portugal e da consequente perda de esperança num futuro melhor. É essencial conseguir-se um forte desenvolvimento da economia para que não se concretize esta previsão. Tal carece do empenho de todos nós! Acredito que vamos ser capazes!
[2] Pouco importa saber se foi mais grave do que no passado! É incompreensível a ocorrência dos inúmeros problemas que têm vindo a público! Ano após ano! Metodologia e planeamento necessitam de alteração profunda!
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Porque será? Porque se está constantemente a desinvestir na ciência, no conhecimento e na valorização dos recursos humanos? Temos as gerações mais bem formadas de sempre, mas a classe política com pior formação académica de sempre, e na maioria dos casos sem experiência profissional relevante.
[2] Claramente sim. Primeiro estava tudo correto, muito bem feito, e não havia erros. Depois até foram necessários pedidos públicos de desculpa. Acho que tal nunca aconteceu antes.
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] Somos um país pobre, antes de mais, cujo recurso maior, neste mundo que foge do Homem, reside na qualidade e na tempera deste povo - em particular destes Jovens - a quem a treta do vazio político, em que nos arrastamos, destruiu a esperança, a energia e a alma onde vive o futuro. O futuro não mora cá! Assim lho dizem! Assim o sentem!
[2] O erro mora lá! É-lhe próprio! Claro que as dificuldades, o amadorismo e o improviso potenciam-no. A implosão do ME, finalmente, abandonou a retórica!
Sebastião Feyo, reitor da UIniversidade do Porto
[1] Esta visão reflete um estado de espírito dos nossos jovens face à situação do país e à abertura mental que os jovens têm hoje para se deslocarem. É muito importante que todos trabalhemos para mudar a projeção de futuro que eles fazem.
[2] Este é infelizmente um problema recorrente, grave pelas implicações na educação e humanas que tem. Neste ano, realmente não se entende o erro grosseiro que ocorreu no modelo de colocação.
