O ministro da Educação é o político mais contestado nos dias que correm. A rutura com os reitores das universidades gerou um dos momentos mais negros na relação Academia-Governo desde o 25 de Abril. Nuno Crato não é o único responsável pelos sistemáticos cortes mas tem de garantir pelo menos que alguém respeita a palavra dada sobre orçamentos. Ou então tem sempre a hipótese de se demitir.
Crato assumiu também a missão de acabar com a "facilidade" vigente - para alunos e professores. Desta vez avançou para mais uma reforma, desta vez sob a forma de exame sobre os mais "pequenos" - os professores do Ensino Básico. Depois recuou e acabou por limitar a avaliação a quem tem menos de cinco anos no sistema (gerando a habitual discriminação dos mais novos e agudizando a precariedade). Como levar o ministro a sério?
[perguntas]
[1] O que pode suceder às universidades portuguesas se o Governo não recuar nos cortes?
[2] Os novos exames de aferição pedagógica para os professores do Ensino Básico fazem sentido?
[respostas]
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] Grave foi o ministro ter combinado uma coisa com os reitores e depois um funcionário das Finanças vir desautorizar aquele e estes. Além disso, nem a reunião dos reitores com o primeiro-ministro permitiu repor as coisas no seu sítio. Vamos por um mau caminho!
[2] Aferir a capacidade pedagógica dos professores faz sentido. O que não fez sentido foi o caráter elementar das provas propostas e a logística definida.
Joaquim Azevedo, professor da Faculdade de Educação e Psicologia da Católica Porto
[1] O diálogo está reaberto; não há outro caminho com sucesso. O mais importante é reestruturar a rede e isso adia-se indefinidamente.
[2] Não, fariam sentido no acesso à formação especializada e à carreira: aí sim, a seleção deveria ser muito rigorosa e não é.
Maria Arminda Bragança, vice-presidente da Federação Nacional da Educação
[1] Enfatizo que estávamos no bom caminho para nos aproximarmos dos números europeus de acesso dos nossos jovens ao acesso e conclusão do Ensino Superior. Foi feito um grande esforço, bem-sucedido, e o ME deveria refletir, antes de fazer cortes cegos com consequências graves.
[2] Apenas reafirmo que esta questão está a ser levianamente tratada com a proposta de uma prova irrelevante, ignorando a necessidade urgente de uma total reforma da formação inicial de professores.
Albino Almeida, conselheiro nacional da Educação
[1] Podem ter de deixar de prestar o serviço público que têm vindo a prestar com elevado reconhecimento e classificação internacional.
[2] Exames com este objetivo só farão sentido no fim do curso que habilita para a docência, não agora! Então e se o professor passar anos e anos sem ser contratado, depois deste "exame"? Ou vai este "exame" repetir-se, periódica e indefinidamente, até o professor ser contratado por cinco anos,
ou mais?
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Pode bloqueá-las. Os reitores são gestores públicos que genericamente melhor gerem e não há exemplos do contrário. É necessário que as universidades possam usar as verbas que conseguem em processos muito competitivos. Os outputs, face aos orçamentos, são inacreditáveis para quem conheça o Ensino Superior a nível internacional.
[2] Não os acho necessários. Mas não entendo professores com medo de exames! Será que após a recusa se sentirão à vontade para os aplicar aos alunos?
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] Degradação global, afastando-as da essência da sua insubstituível missão: a de desenvolver o país. Aos cortes devem somar-se a "excelência" dos atropelos diários à autonomia universitária, estigma identitário de poderes fracos.
[2] São uma aberração que ronda o insulto a quem em Portugal dá vida e excelência à formação de formadores. É chamar de "rigor" (parafernália do discurso em uso) a uma redundância com o objetivo de pôr uns tantos fora do barco. Apenas!
Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto
[1] Se o Governo insistir em aplicar às universidades, injustificadamente, cortes superiores aos aplicados a outras entidades, o país perderá um dos poucos agentes que o têm prestigiado internacionalmente e que seria essencial para o ajudar a sair da crise.
[2] O modo tardio, em cima da hora, como foi anunciada e a aplicação a professores que lecionam há vários anos, embora agora limitada a quem lecione há menos de cinco, anulou qualquer virtualidade que a prova pudesse ter.
