O Hospital de São João não foi criado em 2013: na verdade já lá vão mais de 50 anos. Ainda assim, provavelmente, não terá havido ano tão extraordinário no destaque dado à instituição - quer pelos rankings onde o hospital lidera, quer pelo destaque mediático do seu presidente.
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A condecoração de António Ferreira pelo Presidente da República, há poucos dias, representa não só um louvor pessoal mas essencialmente o destaque de uma tese de gestão dos bens públicos que tem uma voz mais livre e relevante a Norte - mas com repercussão no país inteiro. As várias entrevistas televisivas do presidente do São João são reflexo disso mesmo.
Assinale-se, igualmente, o patamar de certificação internacional atingido pelo Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, gerido pelo Espírito Santo Saúde - outra boa notícia de 2013.
[perguntas]
[1] 2013 trouxe alguma boa notícia aos utentes do Serviço Nacional de Saúde?
[2] Qual o momento do ano na Saúde em Portugal?
[respostas]
António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S.João
[1] Trouxe o Formulário Nacional do Medicamento, garante de equidade e é fundamental para a sustentabilidade.
[2] Os da divulgação dos relatórios internacionais, incluindo o da OCDE, que mostram resultados excelentes do nosso sistema de saúde.
Isabel Vaz, presidente da comissão executiva da Espírito Santo Saúde
[1] Permitam-me destacar o 2º ano de atividade do Hospital Beatriz Ângelo, um hospital público de excelência, gerido por uma empresa privada, ao serviço da população de Loures, Odivelas, Sobral e Mafra, que obteve a acreditação internacional de qualidade pela JCI.
[2] Pela positiva, finalmente a coragem de um político, o secretário de Estado da Saúde Leal da Costa, por apelar à responsabilização individual de cada cidadão pela sua saúde. Uma pena ter sido mal compreendido.
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] A melhor notícia é, sem dúvida, que o SNS vai "sobrevivendo", apesar da enormidade dos cortes. Os Portugueses continuam a beneficiar de um serviço quase único no mundo mas devem habituar-se a que a saúde não tem preço mas tem um custo, que alguém tem que pagar e que, pelo menos é necessário não desperdiçar.
[2] Talvez a melhor notícia seja a de que, apesar de tudo, o orçamento do Estado para 2014 foi relativamente "simpático" para a Saúde.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] Houve várias boas notícias para todos, como o aumento do poder terapêutico para tratamento de doenças e a maior capacidade de diagnóstico precoce. Houve também uma melhoria no controlo de gestão hospitalar, com algumas instituições com desempenho acima da média.
[2] Houve dois momentos no ano que destacam a medicina preventiva. Um deles na divulgação de testes genéticos preventivos para cancro de mama familiar, que o caso de Angelina Jolie ajudou a comprovar e esclarecer. Outro tema transversal este ano, foi o dos repetidos alertas relativos ao acréscimo de Obesidade/diabetes, tornando a população progressivamente mais consciente e colaboradora na construção da sua saúde. Além desses, são momentos do ano todos os momentos em que os profissionais de auto-superam.
Maurício Barbosa, bast. da Ordem dos Farmacêuticos e prof. da Fac. de Farmácia da UP
[1] O preço dos medicamentos dispensados nas farmácias continuou a baixar, o que permitiu ainda mais poupanças aos utentes e ao Estado. Mas arrastou os operadores para uma séria crise económica e financeira, muito gravosa para as farmácias, de que a falta de medicamentos é já reflexo.
[2] A criação da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica. Norteando-se por critérios técnico-científicos, é um bom exemplo de como se deve promover o uso racional e sustentável do medicamento.
Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho
[1] Sim. Houve a abertura de mais Unidades de Saúde Familiar (USF), a publicação de algumas diretrizes relevantes (regulação do consumo de sal e suplemento de iodo em grávidas) e o início da produção de fármacos em algumas unidades hospitalares.
[2] O momento do ano da Saúde em Portugal é o reconhecimento internacional (aprovação pela Food and Drug Administration - FDA - o regulador na América do Norte) de um fármaco (antiepilético) desenhado e produzido em Portugal pela Bial.
Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde
[1] Estamos a atravessar uma crise tão intensa que é difícil encontrar uma medida que constitua um desenvolvimento dos nossos serviços de saúde e muito menos que traduza uma salutar mudança do terrível subfinanciamento atual. As boas notícias do ano são, portanto as que nos mostram que o Ministro e a sua equipa conseguiram a façanha de ir mantendo uma qualidade invejável do SNS.
[2] O momento do ano de 2013 será... em 2014. Em 2013 todos os momentos foram perigosamente heroicos.
