É unânime que o melhor ministro do Governo é Paulo Macedo e não por acaso este setor é o que tem a nota mais elevada (13 valores) de entre todos os que o JN publica. Isso parece dever-se às reformas que conseguiu até aqui. Porque não se fazem mais mudanças deste tipo na despesa pública portuguesa?
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A difícil relação com os sindicatos explica alguns impasses mas há certamente mais razões. Muitas vezes é a forma cega e abrupta como as propostas tentam intervir na realidade que não deixam alternativas a quem é vítima delas (daí as greves sistemáticas). Paulo Macedo parece ter encontrado um estreito caminho. Mas falta saber, por exemplo, se chegou a este ponto porque deixou de fora, por exemplo, uma batalha gigantesca com os médicos. Porque devem apenas os enfermeiros trabalhar 40 horas? São profissões incomparáveis?
[1] O ministro da Saúde tem condições políticas para continuar a fazer reformas dolorosas no setor?
[2] Os enfermeiros exigem ser equiparados aos médicos na exceção à regra das 40 horas de trabalho na Função Pública. Têm razão?
[respostas]
António Ferreira, presidente do conselho de administração do Hospital de S.João
[1] Apenas o Ministro da Saúde tem condições para fazer uma análise séria da situação.
[2] Não.
Isabel Vaz, presidente da comissão executiva da Espírito Santo Saúde
[1] Deveria ter, uma vez que as reformas do setor em curso são de cariz eminentemente técnico.
[2] O que não se percebe é porque é que os médicos são uma exceção.
Manuel Antunes, cirurgião torácico e professor da Universidade de Coimbra
[1] Neste momento, é difícil dizer se há condições políticas seja para o que for. De todo o modo, penso ser necessário concluir o que está em marcha, sabendo, no entanto, que a maior delas, eliminar a auto-competição, ainda está por fazer, e não me parece que o possa ser agora.
[2] Uns e outros têm tido atitudes muito dúbias, tão depressa clamando por horários menores como aproveitando trabalho extra, tantas vezes não cumprido. Penso que 40 horas, adequadamente pagas, é razoável.
Paulo Mendo, antigo ministro da saúde
[1] O Ministro da Saúde tem sido, quanto a mim, quem melhor e mais humanamente interpretou e executou o dificílimo programa de redução de custos que a política da UE lhe impôs. Não só protegeu os bolsos dos doentes, como manteve os objetivos fulcrais do SNS. Com prejuízos, carências, enormes dificuldades dos fornecedores e alguma degradação dos serviços, pois não é impunemente que se cortam milhares de milhões de euros aos orçamentos da Saúde e simultaneamente se exija ( e muito bem) que o SNS continue a desenvolver-se. Mas tenho medo que a luta partidária o venha a dispensar.
[2] Quarenta horas de trabalho semanal no SNS é o mínimo desejável. A discussão não pode ser funcional, sobre horário de 36 ou 40 horas, mas sim sobre salários, acesso e progressão numa carreira de 40 horas.
Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho
[1] Claro que sim. As reformas necessárias não devem ser nunca adiadas porque só elas asseguram a sustentabilidade do SNS, uma das maiores conquistas nacionais do Portugal democrático.
[2] Entendo que a transição deveria ser gradual e voluntária para os já contratados e, obviamente, com o respetivo ajuste salarial. Claro que também aqui é vital rever as acumulações de funções.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] Há reformas de melhoria de gestão que são necessárias e devem ser feitas por quem sabe fazê-las bem, independentemente das condições políticas.
[2] Depende da perspetiva; há departamentos com excesso e outros Departamentos com deficit de enfermeiros. Este é o equilíbrio a resolver.
Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e prof. da Fac. Farm. Univ. Porto
[1] As reformas da saúde têm de prosseguir, visando conjugar o bem-estar das famílias, que é um valor superior, com a racionalidade do sistema e as parcas possibilidades das finanças públicas. Em particular, já o disse aqui, é cada vez mais imperioso avançar com a reforma hospitalar, reorganizando a rede de hospitais e os respetivos serviços.
[2] Não conheço bem o assunto. Como princípio defendo que as exceções às regras devem ser poucas, justas, compreensíveis e justificadas.
