O clima de guerrilha entre o sector mais radical dos professores e o Ministério da Educação levou a um exercício incompreensível num país civilizado.
À tentativa de resistir a exames, porventura desfasados da realidade, os professores foram tentando boicotar algumas provas. Nuno Crato respondeu - como lembrou Marcelo Rebelo de Sousa - com os métodos da "escola da extrema-esquerda", onde debutou aliás, e marcou um exame quase de surpresa. Um tiro à socapa nas costas de muitos professores já de férias ou impedidos de se prepararem.
O resultado foi catastrófico enquanto exemplo. As reações de alguns professores são a pior escola que os alunos podem receber. Mas, ao mesmo tempo, a esmagadora maioria submeteu-se porque o tempo é de fome de emprego e não de unidade. E, como em todos os regimes repressivos, o Estado e a sua imperial máquina de pagar salários venceu.
De onde se conclui que Nuno Crato agiu de forma não foi muito diferente de Mário Nogueira e dos métodos radicais da FENPROF. Abriu a porta a uma sistema de vale-tudo que os próximos meses se encarregarão de mostrar, tendo-o por alvo e os alunos por reféns. As consequências políticas, entretanto, chegarão. Este Barómetro não deixa de as assinalar desde já a passagem da avaliação da Educação portuguesa com nota negativa. Se nos lembrarmos que Nuno Crato foi acolhido com um esperançoso 13, realmente já muita decepção passou por debaixo das pontes.
[perguntas]
[1] A marcação, pelo Ministério da Educação, de um exame de avaliação de professores com apenas 3 dias de antecedência para evitar greves, é uma medida aceitável?
[2] As Universidades têm o orçamento do próximo ano lectivo garantido?
[respostas]
Albino Almeida, conselheiro nacional de Educação
[1] Não é aceitável! O MEC tem desenvolvido a política educativa baseada numa desconfiança de todo o sistema que administra, com um discurso político legitimador que, alegadamente, só pretende o aumento da qualidade dos docentes do ensino público, mesmo sendo o mesmo MEC o responsável pela sua formação inicial e contínua dos professores!
[2] As universidades, como todas as instituições públicas, só sabem que terão orçamento, mas não os montantes! Algo que devia ser clarificado.
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] Claro que não! Mas também é inaceitável que os professores pretendam isentar-se de avaliação periódica. Qualquer sociedade com preocupações de qualidade pratica a avaliação em todos os sectores, pelo que a Educação e a Cultura não podem ficar de fora.
[2] Quem tem orçamentos garantidos nos dias que correm? A questão não se pode equacionar apenas em termos de garantia de recursos por parte do Estado. Importa evoluir no sentido da afectação de recursos ser em função dos resultados.
Joaquim Azevedo, docente da Escola das Artes da Católica Porto
[1] Não é o mais correto, tendo em vista um quadro de cooperação entre os profissionais e a tutela.
[2] Desconheço. Sou de uma universidade que tem de lutar anualmente por cobrir em receitas próprias todas as suas despesas.
Maria Arminda Bragança, secretária coordenadora da CPLP-Sindical da Educação
[1] Entendo que não e o Ministro da Educação revelou uma enorme falta de senso político. Reavivou do pior modo uma guerra desnecessária, num momento inoportuno utilizando uma estratégia condenável, na maior falta de respeito por um direito constitucional.
[2] As Universidades têm de ter as condições mínimas para garantir o seu funcionamento no próximo ano lectivo. Exigir uma gestão rigorosa dos dinheiros públicos,não significa fechar as portas à qualificação dos nossos jovens.
Marques dos Santos, professor universitário
[1] Um exame avalia conhecimento ou capacidades de quem a ele se sujeita! Para que outros fatores não influenciem o desempenho de quem é examinado, a data de realização do exame deve ser conhecida com uma antecedência razoável! Uma antecedência de três dias não cumpre a razoabilidade exigida.
[2] O orçamento ainda é uma incógnita! Acredito que o governo vai reconhecer a indispensabilidade das universidades para a recuperação económica, reforçando as dotações na medida do possível.
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] Acho que de facto é inaceitável, há certos limites que não devem ser ultrapassados. Reações exageradas também não ajudam.
[2] Não tenho grande esperança. As universidades trabalham bem e mereciam outro respeito por parte da tutela.
Rui Teixeira, presidente do Institulo Politécnico de Viana
[1] Não. Este gato e o rato não são próprios do sistema maior da garantia do futuro de um povo: a Educação. Tudo é feito sem um suporte sério e sem outro sentido de futuro que não seja o do alinhamento pelos chorrilhos da cartilha em uso. Soluções de passagem! A ver se sobra alguma coisa!
[2] Têm. Agora, em Agosto, vamos receber um plafond, com um valor virtual, que serve,e apenas, para base dos sucessivos cortes que começam logo elaboração do orçamento...
Sebastião Feyo, reitor da Universidade do Porto
[1] Foram 5 dias e os professores já contavam com a prova. Não sendo desejável, será uma medida aceitável, tendo em conta os constrangimentos externos.
[2] Não têm, sendo bom lembrar que a qualidade tem custos e sem qualidade o País não será capaz de recuperar desta situação traumática em que se encontra. Os Reitores apresentaram uma proposta responsável para que os orçamentos das universidades mantenham os valores de 2013.
