Neste infeliz mundo das coisas separadas por departamentos é possível pensar-se na Educação e esquecer-se a Cultura; ou pensar-se no reforço da economia ou emprego e, ao mesmo tempo, não investir na educação; ou, mais ridículo ainda, cortar nas principais âncoras de fixação de juventude e pensar-se que os talentos ficam no país.
Felizmente há mais vida que os sucessivos "Governos". São precisamente os governos das universidades, que têm conseguido melhorar a performance das suas instituições apesar da redução de meios. A subida nos rankings das academias portuguesas é um bom reflexo disso embora não evite que os mais qualificados depois saiam do país.
Mas há uma esperança. É a atração de alunos estrangeiros para as nossas universidades. Se Portugal está na moda no turismo, não é de pôr de lado a hipótese de haver cada vez mais gente a querer vir para cá estudar. Além, claro está, de muitos alunos por esse mundo fora ambicionarem frequentar o ensino superior na União Europeia. Para Portugal conseguir esse êxito é, no entanto, necessário evitar a falência total da "Cultura" (o resultado prático da vanguarda nosso pensamento). E mantermos os bons professores. É difícil mas não impossível.
[perguntas]
[1] A subida sistemática das universidades portuguesas nos rankings mundiais pode trazer, a prazo, mais receitas? Com alunos de que nacionalidades?
[2] O sufoco financeiro na Cultura está a levar os artistas portugueses a emigrar?
[respostas]
Albino Almeida, conselheiro nacional de Educação
[1] Pode trazer mais receitas, seguramente, com alunos vindos nomeadamente da China. Falta uma política efetiva de internacionalização do ensino superior.
[2] Alegadamente sim. Também nesta matéria, o Ministério das Finanças comanda a cultura.
Braga da Cruz, presidente da Fundação de Serralves
[1] O ensino para estrangeiros é uma das mais importantes atividades económicas do Reino Unido. Aspirar a ser incluído na preferência dessa procura reclama de Portugal que a sua oferta seja mais orientada e de qualidade.
[2] Os padrões e as preferências culturais são cada vez mais globais e o interesse pela
criatividade dos artistas portugueses é crescente. É a partir desta realidade que, mesmo num quadro de restrição, se deveria construir o apoio público para a sua ambição externa.
Joaquim Azevedo, docente da Escola das Artes da Católica Porto
[1] São muito boas notícias. Mas só trará mais alunos se os soubermos recrutar convenientemente e competitivamente no mercado mundial. Temos muitas condições de atratividade.
[2] Não sei, mas há muitos talentos a saírem de Portugal, os artistas não serão exceção.
Maria Arminda Bragança, secretária coordenadora da CPLP-Sindical da Educação
[1] Nos últimos anos tem-se registado um aumento do número de estudantes estrangeiros inscritos no ensino superior em Portugal e esta subida no ranking mundial é, obviamente, uma mais valia. Segundo os dados, a maioria dos alunos estrangeiros vêm do Brasil e Palop, mas também de países da UE e fora da UE, da Ásia e da América do Norte.
[2] Se o sufoco financeiro do país originou uma vaga de emigração, possivelmente acontecerá o mesmo com os artistas.
Marques dos Santos, professor universitário
[1] Acredito que sim! Há muitos jovens que querem obter uma formação superior e não têm onde nos seus países de origem, em particular da América Latina, Ásia e África. Temos de melhorar a reputação das universidades, real e percecionada, com padrões de qualidade ao mais alto nível, para atrair dos melhores em todo o mundo.
[2] Muitos dos nossos melhores artistas sempre emigraram! A situação agrava-se pela falta de investimento e de públicos e pela escassez de dinheiro dos portugueses.
Rui Reis, investigador e professor catedrático da Universidade do Minho
[1] A qualidade de algumas das nossas Instituições, que não se mede só nos rankings mas de que estes são um indicador, atrairá mais receitas. Poderemos ter mais alunos dos PALOP, da Ásia, América Latina e outros Países Europeus. Atrairemos mais financiamentos de I&D competitivos. Mas os cortes sistemáticos no orçamento base das universidades cria dificuldades de funcionamento que pode colocar tudo causa.
[2] Sim, como em todas as áreas sufocadas em que as pessoas têm qualidade...
Rui Teixeira, presidente do Instituto Politécnico de Viana
[1] Pode. O ensino superior português - universitário e politécnico - é dos melhores do mundo, apesar do desprezo que vem sofrendo nos três últimos anos. Podemos vendê-lo em todo o mundo, mas os mercados preferenciais serão a América Latina, os PALOP e a China.
[2] Muito do que neste país tem valor, do operário ao cientista, vai-se embora. O sr. primeiro- ministro, de resto, aconselha-o.
Sebastião Feyo, reitor da Universidade do Porto
[1] A melhoria de qualidade percebida pelos parceiros tem óbvias consequências na procura, mas o mais importante é a cooperação, não as receitas. A UPorto continua a atrair estudantes de todo o Mundo.
[2] A emigração provocada pela crise financeira foi sentida em várias áreas de atividade, incluindo na Cultura e nos seus agentes, mas devemos prosseguir com políticas culturais. Cultura é sempre necessária, sejam quais forem os danos colaterais.
