Com base em estudos recentes sobre o uso da Inteligência Artificial generativa, a professora da Universidade Lusófona Célia Oliveira defende que esta é uma ferramenta que pode complementar a aprendizagem, mas nunca a poderá substituir.
"Quanto mais a Inteligência Artificial pensar por nós, menos nós pensamos por nós próprios", afirma Célia Oliveira, ao citar o estudo recente The Paradox of Memory (Oakley et al., 2025). No episódio desta semana do "Educar Tem Ciência", podcast da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o JN, a docente da Universidade Lusófona considera que a Inteligência Artificial "pode complementar o desenvolvimento cognitivo dos alunos". No entanto, é preciso evitar que o cérebro fique mais preguiçoso. Muitos destes riscos já foram identificados de forma científica, nomeadamente o "efeito da preguiça cognitiva" ou "efeito de atrofia cognitiva".
Célia Oliveira argumenta que independentemente das vantagens da Inteligência Artificial generativa, "é fundamental capacitar alunos e professores para o uso destas ferramentas para fomentar uma aprendizagem real e "não pensar apenas no desempenho e nos resultados". "Uma coisa é os alunos cumprirem tarefas, outra é efetivamente aprenderem com elas", sublinha.
Em suma, "a investigação indica que, para garantir a aprendizagem, a Inteligência Artificial deve ser desenhada para incentivar o esforço mental dos alunos, a atenção focalizada, a capacidade de aquisição, a recuperação e a aplicação de conhecimentos, que são os alicerces centrais, para as capacidades cognitivas complexas, que tanto defendemos, como é o caso do pensamento crítico, da criatividade e da resolução de problemas".
"Ouvimos frequentemente dizer que a Inteligência Artificial está a transformar a Educação, mas devemos também perguntar-nos se não cabe à Educação transformar a Inteligência Artificial"
Professor ou mediador?
Quanto ao papel do professor, Célia Oliveira defende que, com o avanço da Inteligência Artificial, ele não pode ficar reduzido a ser um "mediador do conhecimento", atendendo ao "papel social insubstituível" que tem, por exemplo, na relação com os alunos.
A psicóloga cognitiva chama também a atenção para o que descreve como "um deslumbre tecnológico", atendendo à grande oferta de ferramentas educativas com recurso à Inteligência Artificial no mercado. "Os decisores políticos e líderes escolares devem adotar rigorosos critérios de seleção e regulamentação do uso destas ferramentas", desde logo, exigindo "a demonstração científica das vantagens e eficácia pedagógica" daquilo que estão a adquirir.
"A tecnologia deve estar ao serviço da Educação e não o contrário. Ouvimos frequentemente dizer que a Inteligência Artificial está a transformar a Educação, mas devemos também perguntar-nos se não cabe à Educação transformar a Inteligência Artificial", conclui.
Pode seguir o Educar tem Ciência na rádio ou em tsf.pt, no site da Iniciativa Educação, no canal JN e nas plataformas de podcast.

