Neste episódio do "Educar Tem Ciência", podcast da Iniciativa Educação, uma parceria entre o JN e a TSF, o professor da Universidade Lusófona João Marôco analisa o declínio nos resultados dos alunos portugueses a Matemática e explica as causas estruturais do problema e os fatores de sucesso.
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"Não é de todo aceitável que um em cada três alunos europeus tenha dificuldades com cálculos aritméticos muito simples", afirma o professor João Marôco, que considera "deveras preocupantes" os resultados do TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study) e do PISA (Programme for International Student Assessment), referentes a 2019 e 2022, porque "as diferenças entre os nossos alunos e os do Sudeste Asiático são até dois anos letivos". Este docente da Universidade Lusófona aponta que "as causas estão bem identificadas" e sublinha que o declínio na aprendizagem de Matemática "não é apenas culpa da COVID 19". O problema já existia antes da pandemia, por causa dos "currículos incoerentes, ensino fragmentado, e políticas baseadas nas modas pedagógicas, em vez de nas evidências científicas".
Enquanto a Europa falha, territórios como Singapura e o Japão têm sucesso na Matemática porque "apostam em currículos exigentes, em ensino direto e em avaliações rigorosas, e conseguem combinar o domínio técnico com o pensamento criativo".
João Marôco alerta para os impactos a médio e longo prazo. "Os cidadãos do futuro, da cidadania ativa, da utilização racional e eficiente da tecnologia estão a ser formados no sudeste asiático e isso tem consequências, porque as sociedades ocidentais são altamente tecnológicas, para as quais a matemática, as ciências e a leitura são conhecimentos absolutamente fundamentais".
Diferentes abordagens
Além dos fatores inerentes ao país, o contexto social e familiar também influencia o desempenho a Matemática. Neste caso, João Marôco observa que "em Taiwan, quando os alunos revelam dificuldades, os pais são chamados à escola e o diretor pergunta-lhes o que é que eles vão fazer para resolver o problema. E eles muitas vezes levam os filhos para os chamados "math gyms", porque entendem que é uma área de conhecimento fundamental para o sucesso profissional dos filhos". Já em Portugal é o contrário: "os pais chegam à escola e perguntam o que é que o professor vai fazer para resolver o problema. E às vezes os professores não o conseguem resolver, porque o problema vem de casa".
João Marôco defende que, se por um lado é preciso atacar a tendência dos alunos não gostarem de Matemática, por outro são necessários "currículos coerentes, avaliações regulares, formações sólidas dos professores e políticas centradas na equidade". "É preciso mais qualidade, não apenas mais investimento", conclui.
Pode seguir o Educar tem Ciência na rádio ou em tsf.pt, no site da Iniciativa Educação, no canal JN e nas plataformas de podcast.

