O presidente da Iniciativa Educação, Nuno Crato, defende que, da mesma forma que os alunos nunca devem deixar de aprender, os professores não devem ter medo de ensinar.
"Uma pessoa, uma empresa, ou uma instituição avança mais quando tem metas. E na escola, como em quase tudo na vida, é muito importante ter objetivos claros", afirma Nuno Crato, no último episódio desta temporada do "Educar Tem Ciência", podcast da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o JN. Com mais de quatro décadas de experiência no ensino, o presidente da Iniciativa Educação defende que "em geral, o que se aprende na escola tem utilidade". O que acontece é que "às vezes não vemos a utilidade no imediato, mas o conhecimento torna-nos mais recetivos, mais críticos, melhores observadores".
"Um romance não tem exatamente utilidade imediata, mas coloca-nos noutro país, noutra cultura, e ler um romance deve ser visto como algo positivo". Nuno Crato dá este exemplo para sublinhar que o conhecimento "vale por si próprio e vale pelas suas aplicações". Por isso, o conselho é "nunca desistir de conhecer". "Às vezes podemos não estar a ver para quê. Podemos não estar a ver qual é o interesse, mas vê-lo-emos mais tarde", adianta.
"O que nós sabemos no século XXI sobre a aprendizagem reforça muitas destas ideias - a ideia do valor do conhecimento e da necessidade de ensinar e de aprender"
Verbo ensinar
E o professor? "Continua a ser alguém que tem a seu cargo, e que lidera, a aprendizagem dos jovens. É alguém que deve ensinar. Não deve ter medo deste verbo e deve aplicá-lo da melhor maneira que conseguir", explica. Nuno Crato recorda, a propósito, um episódio do tempo em que foi presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática e em que estava em discussão o Estatuto do Professor. "Na altura circulou um documento digital, com dezenas de páginas, mas a palavra ensinar não aparecia uma única vez. Dizia-se que o professor era um facilitador de aprendizagem, um companheiro, um educador, era isto e aquilo, mas os verbos 'ensinar' e 'aprender' não apareciam. E, de certa maneira, isso revoltou-me. Parece que temos medo da ideia de ensinar, quando esta é talvez a profissão mais nobre de todas".
Mas afinal, o que é ensinar? "É transmitir algo que eu conheço. Pode ser um conhecimento, mas também pode ser um procedimento, pode ser um conhecimento processual. Se o professor fosse apenas um facilitador, alguém que está na aula para evitar distúrbios ou outra coisa qualquer, não estaria a cumprir uma função tão nobre como esta", resume.
Nuno Crato coloca os conceitos em perspetiva: "Isto parece educação tradicional, mas não é. Ou melhor, também é educação tradicional, mas é muito mais do que isso, porque o que nós sabemos no século XXI sobre a aprendizagem reforça muitas destas ideias - a ideia do valor do conhecimento e da necessidade de ensinar e de aprender - e dá, obviamente, indicações sobre a melhor forma de o fazer".
Pode seguir o Educar tem Ciência na rádio ou em tsf.pt, no site da Iniciativa Educação, no canal JN e nas plataformas de podcast.

