Numa altura em que as escolas enfrentam desafios transversais, o investigador Pedro Freitas fala, no "Educar Tem Ciência", podcast da Iniciativa Educação, uma parceria entre o JN e a TSF, sobre a necessidade e os fatores a ter em conta para passar programas de pequena para grande escala, mantendo a qualidade dos projetos.
O cenário é este: nunca houve taxas de abandono escolar tão baixas, nem uma tão grande diversidade nas salas de aula, com alunos filhos de imigrantes, em que a língua materna não é a portuguesa. Em contrapartida, a evolução na aprendizagem está em queda, segundo indicam as avaliações internacionais como o PISA ou TIMMS. Por outro lado, a escassez de professores é generalizada. O professor da Universidade de Oxford e da Nova SBE Pedro Freitas parte desta realidade para explicar que "os desafios são semelhantes, de escola para escola, e é preciso desenhar soluções que cheguem a todos ao mesmo tempo".
Mas este é um patamar logo à partida complicado. "Se temos muitos alunos a aprender português em muitas escolas ao mesmo tempo, é muito difícil encontrar recursos para todos; e quando nos faltam professores é muito difícil fazer chegar novos docentes a tantas escolas. Há um problema de fragmentação", constata.
Crescer com qualidade
O grande objetivo "é fazer com que, quando se passa da pequena para a grande escala, os impactos não se percam". Pedro Freitas defende que "é natural haver riscos, porque, obviamente, gerir um programa que acontece em dez escolas, não é o mesmo que gerir um que tem lugar numa centena ou em mil escolas". O professor avança que "é muito importante conseguir experimentar várias vezes e em diferentes contextos para se saber como é que o programa acontece e se os resultados são positivos, de forma robusta e estruturada", acrescenta.
"Temos evidência científica de vários programas que sabemos que funcionaram em pequena escala. Agora é preciso perceber como pegar nesses programas e maximizá-los"
O desafio da representatividade
Pedro Freitas sublinha ainda a questão da representatividade, para explicar que pode ser "perfeitamente legítimo" fazer um programa direcionado para alunos de um contexto socioeconómico mais desfavorecido. Mas quando se transpõe o mesmo programa para o contexto nacional, os resultados "podem ser inócuos", porque "não podemos esperar que ele chegue da mesma forma a públicos-alvo diferentes".
"É preciso pensar se os projetos podem ser replicado em grande escala. (...) É importante perceber qual é a real implementação, quem os implementa, quem os faz chegar à sala de aula e aos alunos, e quais os custos que estão associados, seja na pequena ou na grande escala", resume.
O facto de não termos problemas circunscritos a determinadas escolas ou regiões aumenta a necessidade de implementar soluções em grande escala. A boa notícia é que "temos evidência científica de vários programas que sabemos que funcionaram em pequena escala. Agora é preciso perceber como pegar nesses programas e maximizá-los", defende.
"Isto é particularmente relevante no contexto português, onde muitas vezes temos tantos projetos fragmentados por escolas e, se calhar, precisamos de consolidação para chegar a políticas públicas mais nacionais", conclui.
Pode seguir o Educar tem Ciência na rádio ou em tsf.pt, no site da Iniciativa Educação, no canal JN e nas plataformas de podcast.

