Faz sentido proibir os smartphones até ao 6.º ano?
Lisboa,15/2025 - Entrevista da jornalista , Fátima Valente ao Professor Universitário João Marôco da Lusófona, para a rubrica "Educar Têm Ciência" no Estúdio Nº 1 da TSF, em Lisboa. (Mário Vasa) (Mário Vasa)
Mário Vasa
Ao proibir os telemóveis no ensino básico, o Governo quer melhorar a aprendizagem, reduzir as perturbações na sala de aula e promover a socialização no recreio. Mas poderá esta medida criar entraves ao uso da tecnologia para aprender? E onde fica a responsabilidade dos pais para restringir o acesso às redes sociais? Este foi o tema desta semana no "Educar Tem Ciência", podcast da Iniciativa Educação, realizado em parceria entre o JN e a TSF.
Corpo do artigo
Apesar de considerar que "o objetivo do Governo é nobre, por tentar promover a socialização das crianças e combater as dependências dos equipamentos digitais", o professor da Universidade Lusófona João Marôco considera que "não é a eliminar os telemóveis da sala de aula e da escola" que se resolve o problema.
Nesta altura já há evidências científicas sobre os efeitos da exposição aos ecrãs por parte das crianças. O docente sublinha desde logo "as consequências sobre a atenção, sobre a memória, sobre o sono e sobre as capacidades cognitivas e sociais" dos alunos em idade precoce, "eventualmente prejudicando a aprendizagem".
"Mas a ciência também demonstra que a tecnologia utilizada, com conta, peso e medida, pode beneficiar fortemente a aprendizagem, e nas sociedades atuais eu acho que não temos alternativa", argumenta.
Por outro lado, João Marôco aborda a questão da dependência dos ecrãs, quando o uso de dispositivos eletrónicos é descontrolado. "O objetivo da proibição também é, de alguma forma, proteger as nossas crianças dos malefícios das redes sociais, mas ao fazer isso, também estamos a travar a digitalização e a literacia digital dessas crianças", acrescenta. Nesse sentido, dá o exemplo de que o próprio Governo português utiliza a rede social X para comunicar políticas educativas. "Vamos impedir as crianças de aprenderem a utilizar o X? Não faz sentido".
João Marôco conclui que "o verdadeiro desafio é regular o uso e ensinar a tecnologia de forma responsável e produtiva. "Proibir não resolve; nunca resolveu. O que é preciso é educar".
Pode seguir o Educar tem Ciência na rádio ou em tsf.pt, no site da Iniciativa Educação, no canal JN e nas plataformas de podcast.