Roteiro organizado pela Ordem dos Engenheiros da Região Norte olha para os desafios colocados pela fileira.
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“Sem engenharia, o mundo não existia”. A frase de Fernando Santos, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, traz um alerta: “Por vezes , os engenheiros são subvalorizados, porque estão no meio do processo”, entre a conceção e a venda de um determinado produto. Braz Costa, diretor geral do Centro Tecnológico do Têxtil e Vestuário (Citeve) e do Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionais e Inteligentes (CENTI), acompanha a ideia, ao assinalar que a engenharia “coloca o conhecimento a render”.
Estes e outros temas estarão em cima da mesa no Roteiro da Engenharia Têxtil, que a Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN) organiza, hoje, em Famalicão (ver programa na página seguinte). O Roteiro integra um périplo que passará por todas as capitais de distrito do Norte, com o intuito de mostrar que “há engenharia em tudo o que há”, o lema da OERN .
A subvalorização tem uma explicação, segundo o Bastonário: no têxtil, a crise fez com que, a dada altura, existissem mais engenheiros do que trabalho, o que originou uma “depreciação salarial e uma massificação” da profissão.
“Com a escassez de talento e o desenvolvimento económico, a engenharia tem vindo a evoluir”, aponta Fernando Santos, dando como exemplo o “fulgor” das chamadas “novas” engenharias (sistemas de informação, aeronáutica ou cibersegurança).Mas essa “revalorização” da profissão não está ainda no “ponto ideal”, designadamente a nível salarial.
“Há bons engenheiros, mas a necessidade de pessoas com este tipo de conhecimento vai continuar a aumentar”, opina Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP).
RESPONDER AO MERCADO
Braz Costa sublinha que a engenharia é uma parte “extremamente importante” do processo de inovação que o têxtil e vestuário procura alcançar. “O sistema científico e tecnológico dá a resposta que lhes compete e a engenharia transforma em realidade”, afirma.
Para o responsável dos centros de investigação, sem esta aplicação do conhecimento científico não teria sido possível a “transformação do setor têxtil e vestuário”. E a mudança que se está a operar ao nível da sustentabilidade também não, observa Mário Jorge Machado. “A engenharia terá uma intervenção muito grande na transformação que vai ser obrigatória por lei”, aponta, referindo-se às normas europeias sobre sustentabilidade e circularidade.
Não se trata apenas de cumprir a regulamentação requerida pela comunidade europeia, mas também de responder às exigências do mercado. Porque, na opinião de Braz Costa, “os compradores exigem cada vez mais um nível superior de produção sustentável”. E a área da sustentabilidade é multidisciplinar: “Estamos a falar de logística, água, energia. Tudo tem de se desenvolver de forma harmoniosa”. E para isso o contributo engenharia é decisivo.
É obrigatório “olhar para as profissões de futuro ”
Diz que há engenharia em tudo. A sociedade tem consciência disso?
Não, por isso é que estamos a realizar estes roteiros.
A engenharia e os engenheiros são valorizados?
Já há valorização, mas precisamos de mais engenheiros a trabalhar na indústria, nomeadamente no têxtil. Houve uma altura que o têxtil e o vestuário sofreu uma crise profunda, sobretudo no Vale do Ave, e teve de melhorar a produção, os processos e a automatização. Se hoje o têxtil tem valor e voltou a ser competitivo, também é porque incorporou conhecimentos de engenharia. Se não houvesse engenharia, a indústria têxtil recuperava como recuperou? Não, sem desprimor para outras áreas.
O mercado tem engenheiros suficientes?
O mercado preparou-se em termos de conhecimento, mas não se preparou em todas as indústrias que dele precisam. Daí a necessidade de consciencializar o Estado para as profissões de futuro, que mudam o mundo e que precisam de ter mais profissionais para transições como a energética ou a digitalização. São precisos muitos mais profissionais e melhores remunerações. O país precisa de ver quais são os conhecimentos em que tem que apostar e produzir mais e melhor, e isso faz-se com recursos estratégicos. Nós contribuímos com estes roteiros, colocando no mapa setores estratégicos e dando a conhecer o papel da engenharia.