
No primeiro episódio da nova temporada do Educar tem Ciência, podcast da Iniciativa Educação realizado em parceria com o JN e a TSF, Nuno Crato falou sobre a importância dos manuais escolares. Fique a conhecer a opinião do especialista sobre estes "instrumentos preciosos".
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Numa altura em que os manuais digitais estão proibidos no primeiro ciclo e, nos anos seguintes, têm uso condicionado, o presidente da Iniciativa Educação, Nuno Crato, afirma que um bom manual é o que ajuda professores, famílias e alunos, e todos os que trabalham no ensino. "Não interessa se é novo ou velho, digital ou em papel, é um instrumento fundamental para uma aprendizagem organizada e ativa", aponta.
No primeiro episódio da nova temporada do Educar tem Ciência, Nuno Crato considera que o manual escolar pode ser decisivo no sucesso dos alunos, e é uma ferramenta importante para os próprios pais, que veem facilitada a tarefa de acompanhar os estudos e tirar dúvidas aos filhos.
Por outro lado, o professor catedrático de Matemática e Estatística no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), defende que um bom manual escolar é escrito com clareza e com ilustrações apropriadas. "A ilustração distrativa é um pecado capital de alguns manuais. Uma boa ilustração ilustra um conceito, está a colocar de forma visual aquilo que o texto coloca de forma verbal. O manual deve conjugar as duas coisas", resume.
Os manuais escolares são "instrumentos preciosos", acrescenta. "São fundamentais para todos, talvez mais para os professores que têm menos experiência de ensino, mas também para os que já são experientes". Por isso, "a organização das aulas não deve ser diferente da do manual, para não confundir o aluno. Porque não faz sentido o professor explicar uma coisa de uma maneira e o manual de outra".
Sequência e previsibilidade
Nuno Crato sublinha que um bom manual escolar deve ter uma estrutura previsível e organizada, de forma a facilitar o uso. E os professores devem seguir os manuais e motivar os alunos a consultarem-nos: "se o professor diz 'está aqui o manual, agora vamos fazer outros exercícios', não está a incentivar a leitura do manual. Mas se diz 'está aqui o manual, abram-no na página 37, vejam lá se isto está bem explicado? Ou se diz: "resolvam o exercício da página 63", está a incentivar os alunos a utilizarem o manual como um instrumento de aprendizagem ativa, fazendo com que ativem as suas mentes".
Nuno Crato refere ainda que "um bom manual escolar pode ser digital; não é obrigatório que seja impresso, embora eu julgue, e há vários estudos sobre isso, que em papel fixa-se melhor do que quando se lê em formato digital".
"Um bom manual escolar pode ser digital; não é obrigatório que seja impresso, embora eu julgue, e há vários estudos sobre isso, que em papel fixa-se melhor do que quando se lê em formato digital".
Temas sensíveis
O presidente da Iniciativa Educação reconhece que "há uma grande polémica" na abordagem de alguns temas, desde a sexualidade aos acontecimentos históricos. "Eu percebo que certas culturas sejam mais sensíveis do que outras a certas coisas. E os manuais devem ter um princípio de razoabilidade".
"Não vou dizer que tudo o que fizemos em África foi fantástico, porque não foi, mas também nem tudo o que fizemos foi horrível", observa. Por exemplo, "não vamos dizer aos jovens para não lerem certas partes dos Lusíadas porque são racistas, não tenhamos dúvidas. Mas também é importante que os jovens entendam que o nosso maior poeta vivia numa época em que aquilo era normal, em que aquilo era racista. Deve explicar-se com naturalidade o que se passou".
Em suma, "as discussões ideológicas e políticas não devem ocultar a informação e a formação dos jovens".
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