
“A transição energética significa eletrificar e é esse caminho que se tem de seguir", defendeu Bento Aires, presidente da Ordem dos Engenheiros Região Norte
Carlos Carneiro/Global Imagens
Engenheiros debateram na Maia diferentes formas de produzir energia mais limpa e barata.
Corpo do artigo
A “Transição Energética” esteve em debate, ontem à tarde, no auditório da Lipor II, em Moreira da Maia, numa conferência organizada pela Ordem dos Engenheiros - Região Norte que reuniu vários especialistas, com diferentes visões e caminhos para se atingir as metas de produção de energia mais sustentável, limpa e, principalmente, que chegue a um preço mais reduzido ao consumidor final.
Bento Aires, presidente da Ordem dos Engenheiros Região Norte, defendeu que “a transição energética significa eletrificar e é esse caminho que se tem de seguir. Temos de garantir que é mais eficiente, mais disponível, que é mais barata, menos poluente e, principalmente tem de ser para as pessoas e com a expressa melhoria da qualidade de vida”, salientou, recordando que “a maior parte da população portuguesa vive em insuficiência energética e não tem dinheiro para pagar a conta de eletricidade. E a primeira consequência disso é não ter as casas devidamente climatizadas. E é essa missão que os engenheiros devem ter”.
Fernando Leite, administrador da Lipor, abordou os números da empresa: “Esta fábrica valorizou 7,7 milhões de toneladas de resíduos e produziu 3725 gigawatts/hora de eletricidade. Sem ela teríamos nestes anos três novos aterros”.
Já o professor catedrático da FEUP e investigador sénior Adélio Mendes mostra-se crítico do uso do lítio. “Para mim é ridícula a forma como o lítio está a ser explorado. Tinha proposto um carro elétrico bem diferente. Se tivéssemos baterias de sódio, elas teriam quatro vezes mais intensidade de potência e metade de energia”.
Por seu lado, João Amaral, diretor de tecnologia e country manager da Voltalia, considera que a “melhor tecnologia que temos hoje em dia é a regulamentação” e realça a importância dos PRR para este setor: “Permitem esses projetos de hidrogénio, que sem subsidiação seriam impossíveis”.
Isabel Nogueira, diretora do departamento de operações e Logística da Lipor, defende que para a empresa atingir os melhores indicadores e as metas de reciclagem “a recolha e a própria sensibilização têm de ser constantes”. “Há uma vontade das pessoas de participarem na reciclagem, mas se isso não for alimentado há um desânimo, porque não há uma ligação direta entre o que uma família contribui na seleção de resíduos e as taxas que paga”, concluiu.
DESTAQUES
Três transições
Segundo defende a Ordem dos Engenheiros, a transição energética não se faz sozinha. Ela precisa de estar interligada a outras duas transições que estão a decorrer ao mesmo tempo. A primeira é a transição digital e a segunda é a transição para a sustentabilidade.
Mar fonte de energia
Portugal tem 850 quilómetros de costa e todo um oceano de oportunidades para tirar proveito energético do que está se encontra. Um deles é o sódio que se pode tirar e produzir baterias com ele. Mas há muitos outros materiais no fundo do mar e com uma estratégia de energia bem direcionada, Portugal poderia surpreender a Europa.
Produção barata
Segundo os especialistas, do ponto de vista da produção não há motivo para a eletricidade ser cara. O problema para eles é o facto do consumidor querer ter acesso à sua utilização no imediato e não depois e é esse transporte que faz encarecer o preço final.
NÚMEROS
26 megawatts por dia
É esta a quantidade de energia que a Lipor II consegue produzir graças à central de valorização de resíduos urbanos e devolve à rede elétrica para abastecer o equivalente a uma cidade de meia dimensão.
1,2% dos resíduos em aterro
Em 2022, as fábricas Lipor de Moreira da Maia e de Baguim do Monte/Ermesinde conseguiram que a quase totalidade dos resíduos que receberam entrassem no circuito das unidades. Apenas 1,2% foram parar aos seus aterros.


