
São mais de 60 anos de trabalho traduzidos em milhares de prémios vindos de diversos continentes. A maior adega nacional está a crescer a olhos vistos e os segredos para tal estão aqui.
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> Boas pessoas, bom tempo, boa gastronomia e bom vinho: estas são algumas das coisas que caracterizam Portugal e que são mais recordadas por quem nos visita. São elementos característicos, levados de boca em boca, um pouco por todo o mundo. E mesmo que as críticas positivas sejam mais fáceis de transportar, há produtos pelos quais o mundo anseia, mesmo que tenham de ir de avião.
Em 2023 foram premiados em Hong Kong e no Canadá 21 vinhos da Adega de Pegões
Os vinhos da Adega de Pegões são exemplo disso, não tivessem este ano conquistado mais de duas dezenas de prémios na América e na Ásia – se por um lado o vinho tinto de 2019 Alto Pina Vinhas Velhas recebeu o título “Melhor Vinho de Portugal” no concurso Cathay Pacific Hong Kong International Wine & Spirit Competition, o branco Vale da Judia trouxe a Grande Medalha de Ouro da competição mundial Sélections Mondiales des Vins, que decorreu no Canadá.
Além destes títulos, o primeiro ganhou mais duas medalhas de ouro, três de prata e sete de bronze neste concurso e o segundo mais seis medalhas de ouro e duas de prata. E como o que não falta nesta adega são vinhos de qualidade, entre os premiados estiveram ainda vinhos como Sobreiro de Pegões Premium, Rovisco Pais Premium, Fontanário de Pegões Vinhas, Adega de Pegões Touriga Nacional e Adega de Pegões Syrah, Encostas da Arrábida Reserva, Adega de Pegões Colheita Selecionada.
Apesar dos bons resultados, é importante salientar que isto de ganhar prémios não é uma novidade. A juntar às distinções recebidas este ano de “Melhor Vinho Fortificado” no Korea Wine Challenge e de “Melhor Cooperativa Portuguesa” na Berliner Wine Trophy, em 2022, a Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões recebeu 253 galardões, dos quais 25 foram Grande Ouro, Duplo Ouro ou Troféus, 130 de ouro, 67 de prata e 31 de bronze.
O backstage
Com tanto reconhecimento, mesmo quem pudesse achar que se tratava de pura sorte, de certeza que já mudou de ideias. Por trás destes prémios estão mais de 60 anos de trabalho, que atualmente se unem em 1.117 hectares de vinha, 13 milhões de quilos de uvas e mais de nove milhões de litros de vinho produzidos. E todos estes quilos e litros são especiais devido a algo tão único como o terroir, o conjunto de fatores que influenciam a uva, para quem é leigo em linguagem vínica.
A proximidade da Serra da Arrábida e dos Barros Alentejanos e os terrenos localizados entre os estuários do Tejo e do Sado fazem de Pegões uma região privilegiada, com condições favoráveis à produção de diversas castas: Castelão (também conhecida como Periquita), Touriga Nacional, Aragonês, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Shiraz são algumas das uvas tintas, que representam 70% da produção, que podemos encontrar; quando falamos de brancas, podemos mencionar a Fernão Pires, Moscatel, Tamarez, Arinto, Antão Vaz e Chardonnay, por exemplo.
A diversidade desta adega manifesta-se também na quantidade de marcas diferentes que tem, contando com vinhos de mesa, regionais, DOC, de Garrafeira, Colheita Selecionada, Moscatel, Aguardentes e Espumantes.
Nos últimos 15 anos tem sido aplicada uma estratégia de modernização e estabilização financeira
E por ser sobretudo movida pela satisfação do consumidor, a maior cooperativa portuguesa continua a trabalhar com o objetivo de produzir vinhos de alta qualidade a preços acessíveis a todos, com 65% da sua produção a ser comercializada no mercado nacional. É a empresa que vende mais garrafas de vinho a retalho e, mesmo em 2022 – o primeiro ano pós-pandemia, que trouxe dificuldades a todos os comerciantes –, conseguiu registar a maior faturação de sempre e obter o maior número de prémios.
A história
Se um dos grandes milagres de Jesus Cristo foi transformar água em vinho, os feitos de José Rovisco Pais não ficam muito atrás, tendo sido capaz de transformar cerveja em vinho. Não exatamente através do mesmo processo que vemos na Bíblia, mas não deixa por isso de ter o seu mérito.
O grande proprietário rural e industrial de cerveja doou as suas herdades de Pegões aos Hospitais Civis de Lisboa, onde se viriam a fixar centenas de casais agrícolas e a plantar 830 hectares de vinha. Em março de 1958, com o apoio da Cooperativa Agrícola, foram produzidos os primeiros vinhos e, com alguns altos e baixos, nos últimos 15 anos tem vindo a ser aplicada uma estratégia de modernização e estabilização financeira.
Exemplo disso são os novos sistemas de vinificação e estabilização a frio, o complexo de cubas de INOX para fermentação com controlo de temperatura, as prensas de vácuo e pneumáticas e as caves para estágio de vinhos com mais de 3.000 barricas, por exemplo.
Os frutos (especificamente uvas) que agora estão a ser colhidos e os prémios que trazem para casa existem apenas devido ao casamento de todos estes fatores e se o que se construiu até agora é motivo de orgulho, de certeza que o futuro será ainda mais risonho. Se 2022 concluiu da melhor forma, 2023 para lá caminha, a atingir recordes na faturação e na produção ainda antes de o ano terminar.

