Os Iron Maiden, lendária banda britânica com quase 50 anos de história, assinaram mais uma noite memorável, desta vez no Estádio Nacional, em Lisboa. O público rendeu-se à energia contagiante de Bruce Dickinson e seus pares.
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À terceira foi de vez. Depois de adiada a primeira data, em 2020, e a segunda, em 2021, devido à pandemia, a "besta" soltou-se em Portugal para mais uma atuação inesquecível. Os Iron Maiden fecharam, domingo a noite, no Estádio Nacional, a "Legacy Of The Beast Tour" em terras europeias.
Com pontualidade britânica, os Maiden arrancaram às 21 horas para quase duas horas de concerto, já depois do tema introdutório "Doctor, Doctor", dos UFO, que tem sido habitual nos últimos anos. O público já estava aquecido pelo calor do dia, com termómetros sempre acima dos 30 graus na zona de Lisboa, e embalado com as atuações anteriores.
Primeiro com o hard-rock dos irrequietos australianos Airbourne e a seguir com o metal sinfónico dos neerlandeses Within Tempation. Duas atuações que deixaram boa nota e mostraram que os grupos têm muitos fãs em Portugal.
Uma pancada seca de Nicko McBrain na bateria abriu as hostilidades dos Iron Maiden. O baixista Steve Harris e os guitarristas Dave Murray, Adrian Smith e Janick Gers fizeram soar os primeiros acordes de "Senjutsu", o primeiro tema do álbum com o mesmo nome lançado em setembro de 2021. As massas agitaram-se com vontade. E apertaram-se, também. Bruce Dickinson entrou em placo vestido de negro. A voz impecável aos 63 anos (fará 64 no dia 7 de agosto). De resto, todo o som, no seu conjunto, invejável.
"Senjutsu" é uma das mais novas da banda, mas nem por isso deixou o público sem reação. Afinal, são os lendários Iron Maiden. São como o vinho do Porto. O tom elevou-se quando a mascote Eddie apareceu em cena, em versão samurai, a condizer com o cenário composto com típicas casas japonesas. Haveria de aparecer novamente mais à frente vestido de soldado em "The Trooper".
Quase sem espaço para recuperar o fôlego seguiu-se "Stratego", segundo tema do álbum "Senjutsu", e a seguir o mais vibrante "The Writing On The Wall". Com o público já ao rubro, ficava assim encerrada a primeira parte do concerto. Uma pequena pausa para mudanças no cenário, sempre muito rico do ponto de visto cenográfico, de pirotecnia e de iluminação, e arrancou a fase dos clássicos.
No tempo do "está tudo online" já quase não há surpresas e também não as houve no Estádio Nacional. O alinhamento foi o expectável. "Revelations" (1983) excitou ainda mais as gargantas e os braços dos fãs desta banda britânica com quase 50 anos de existência e alguns dos maiores clássicos do heavy metal no currículo. Bruce Dickinson irrequieto como sempre em palco, músicos irrepreensíveis. Profissionalismo imbatível numa banda em que todos têm idades entre os 63 os 70 anos - o mais velho é o baterista.
"Blood Brothers" (1980) é daquelas que arrepia. E arrepiou no Jamor. "What are we?" perguntava Dickinson para o público responder, em uníssono, "We"re Blood Brothers". A melodia comprovava o som cristalino. Seguiram-se "The Sign Of The Cross" (1995) com o vocalista a transportar uma cruz iluminada, trocada por um lança-chamas durante "The Flight of Icarus" (1983), dedicada à tragédia grega de Ícaro.
Sempre com novos adereços, o irrequieto vocalista prosseguiu a sua performance, acompanhada do fantástico jogo de luzes da "Legacy Of The Beast Tour" e perante uma plateia eufórica, tanto no relvado como na bancada, que entrou em êxtase total com a sequência "Fear of the Dark" (1993), "Hallowed Be Thy Name" (1993), "The Number Of The Beast" (1982) e "Iron Maiden" (1980).
Outros três clássicos - "The Trooper" (1983), com Bruce Dickinson e Eddie disfarçados de soldados coloniais britânicos a lutar com espadas, "The Clansman" (1998) e "Run To The Hills" (1982), uma das canções mais populares da banda - soaram no primeiro encore. No segundo, para término de festa, o discurso de Churchill antecedeu "Aces High" (1984), o tal em que um avião Spitfire em tamanho real parece que sobrevoa o palco.
Já com a farta plateia completamente rendida, as palavras finais antes de cair o pano: "Vemo-nos por aí", atirou o vocalista Bruce Dickinson aos 30 mil fãs, antes de abandonar o palco deste primeiro concerto dos Iron Maiden num estádio, em Portugal.