The Smashing Pumpkins: Olhar para trás para seguir em frente.
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O ceticismo paternalista com que se carregou no play para ouvir mais um disco de Smashing Pumpkins (o décimo terceiro), foi quase imediatamente afastado pela forte distorção de um contagiante riff a fazer lembrar outros tempos em que o “grunge” surgiu para conquistar o mundo. A surpresa manteve-se prolongou-se tema após tema até que 44 minutos depois se poder dizer, sem reservas, que os Smashing Pumpkins estão de volta.
Aghori Mhori Mei é um disco excelente; agressivo e sentimental, transgressor e emotivo, a par dos primeiros e mais marcantes trabalhos da banda e a léguas dos menos conseguidos discos do século XXI. É um regresso ao rock puro e ao ressurgir do espírito desafiador que já se pensava perdido. Um risco assumido pelo próprio Billy Corgan: “Ao compor este disco fiquei intrigado com o conhecido axioma “não se pode ir a casa novamente” [You can’t go home again], que sempre acreditei verdadeiro na forma, mas pensei “bem, e se tentássemos na mesma?”. Não tanto a olhar para trás com sentimentalismo mas como um meio de avançar, para ver se, no balanço do sucesso e do fracasso, os nossos modos de fazer música por volta de 1990-1996 ainda inspirariam algo revelador.”
A tentativa foi coroada de sucesso, enorme sucesso. Pela primeira vez desde o reencontro, Billy Corgan, James Iha e Jimmy Chamberlan surgem como um trio coeso e focado. E "Aghori Mhori Mei" é, como pretendia Corgan, um regresso ao passado. Sem nostalgia, mas como inspiração e motor criativo de algo que honra e transcende o que já foi feito.
Temos os temas mais diretos e pesados, com riffs poderosos e distorcidos, a lembrar um grunge niilista ou rock mais inconformado, mas também temas mais sentimentais e as baladas a meio-tempo com guitarras melódicas que nos invadem de deliciosa melancolia adolescente. Da agitada e elétrica “Edin” até à épica operática “Murnau”, dez temas que nos dão força para não acreditar em axiomas.