Onde se fala de mãos que contam histórias, amizades tecidas no papel que saltam para a vida real ou muito simplesmente canções que recusam a lassidão. Neste sombrio arranque do estio, nada melhor do que nos alumiarmos com o poder redentor da arte.
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Associamos o talento de um músico sobretudo ao virtuosismo, à capacidade de executar com mestria determinada composição. E, todavia, há um naipe reduzido de artistas capaz de conjugar essa dimensão técnica a uma força interior cuja origem se torna impossível definir com exatidão.
O russo Arcadi Volodos é um desses músicos. Pela forma apaixonada como toca piano, é apelidado com frequência de narrador ideal das histórias musicais do romantismo, envolvendo as composições de Schubert, Liszt ou Tchaikovski com um suplemento de alma a que se torna difícil resistir.
Enquanto não chega o concerto desta terça-feira na Casa da Música, podemos sempre revisitar o seu percurso num documentário completo de visionamento mais do que recomendável:
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No cada vez mais variado mundo dos podcasts, é fácil perdermo-nos nessa imensidão de ofertas, mesmo que uma parte não negligenciável tenha um interesse tão limitado que nos faz pensar se a sua existência terá outro objetivo além da elevação periódica do ego dos seus criadores. Não é esse o caso de "Sem barbas na lingua", projeto do escritor Hugo Gonçalves e do humorista Guilherme Duarte. Há quatro anos que ambos esquadrinham semanalmente a atualidade para lançar um conjunto de dúvidas e questões que nos fazem repensar por vezes certezas que dávamos por adquiridas.
Não teremos (novamente) Paredes de Coura este ano, pelo menos nos moldes a que nos habituámos, mas nada nos impede de escutarmos alguns dos imensos artistas que deixaram a sua marca por lá. Como os noruegueses Kings of Convenience, cujas atuações pelo festival minhoto (e aparições na praia fluvial circundante) sempre foram saudadas com particular vigor pelo público. Sem lançarem um disco novo desde "Declaration of independance", em 2009, Eirik Glambek Bøe e Erlend Øye deram finalmente sinal de vida fora dos concertos, lançando há dias "Peace or love". "Catholic country" é o single de avanço do disco:
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José Eduardo Agualusa e Mia Couto partilham mais do que a paixão pela escrita e pelo continente africano. A profunda amizade que os liga já resultou até num projeto literário comum, mas redunda com mais frequência ainda nas conversas que mantêm em eventos literários de todo o mundo. A mais recente teve lugar no passado sábado em Barcelona, no âmbito do festival Kosmopolis e pode ser visionada na íntegra.
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0 21 de junho é sinónimo da chegada do verão. Mas não é. É também o dia de Machado Assis, nome maior da literatura de língua portuguesa nascido há 182 anos. Ainda hoje lido e estudado por romances tão poderosos como "Dom Casmurro" ou "Memórias póstumas de Brás Cubas", Assis merece ser também descoberto pelas vastíssimas incursões por géneros como os contos, o teatro e também a poesia. Um dos seus poemas mais singelos fala sobre duas das suas grandes paixões: os livros e as flores:
Livros e flores
Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?