25 anos de Bezegol: "Não me sinto frustrado por ter de trabalhar além da música"
Com o Porto sempre no coração, Bezegol estreia-se em nome próprio no Coliseu, no sábado, mais de duas décadas e meia depois do início da sua carreira. Rui Veloso e Mundo Segundo entre os convidados da celebração.
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Bezegol celebrou 25 anos de carreira em 2024, mas os desafios de estar à margem de uma lógica comercial adiaram os festejos. Amanhã, 22 de fevereiro, sobe ao palco do Coliseu do Porto, pela primeira vez em nome próprio. Irão acompanhá-lo Rui Veloso, Mundo Segundo, Deau e o seu grupo de sempre, Rude Bwoy Banda. Os marcantes "Fora da Lei", "Rainha Sem Coroa" ou "Maria", que diz não serem um fardo por serem as faixas mais conhecidas, mas antes um reconhecimento do seu trabalho, vão constar no concerto, mas haverá ainda espaço para novos temas. Com o JN, conversou sobre os primeiros anos, sobre o trabalho que mantém a par com a música e sobre a liberdade.
Antes de 2000 já tocava. O que marca o início destes 25 anos?
Conto desde que gravei a minha voz pela primeira vez, em 1999. Estes 25 anos seriam para acontecer no ano passado, mas só se conseguiu organizar para agora. É claro que comecei a tocar por volta de 1992, como DJ e no meio disso tive paragens e estive fora do país, mas o que realmente marca o começo da carreira foi ter entrado num estúdio.
Essa gravação foi o quê?
A primeira coisa que fiz foi um projeto promovido pela Antena 3, um álbum com temas sobre a luta contra a droga. Houve um problema e acabou o projeto por não ser concluído e por não acontecer o álbum. Nunca falo nisso porque foi como um projeto falhado. Depois é o caminho que já se conhece: gravei com o Wolfgang Schlögl, membros dos Sofa Surfers, e a partir daí criamos a Matarroa e acaba por ser o momento em que consigo levar um tema meu para a rádio.
Teve reconhecimento logo de início. O restante caminho foi mais lento?
Sempre procurei ter um sucesso duradouro e não explosivo. A carreira demorou bastante tempo a assentar. Nestes 25 anos, não tenho 20 álbuns para mostrar, mas as coisas foram todas feitas com pés e cabeça, com o tempo que foi preciso para as fazer. Felizmente tenho a possibilidade de ter um trabalho fora da música e nunca tive que apressar as coisas. Sempre fiz porque queria.
Ainda precisar desse trabalho paralelo é uma frustração?
É uma liberdade, porque foi uma liberdade de escolha. O trajeto que assumi foi não estar no circuito comercial, até porque a forma como faço música nunca obedeceu a nenhuma regra do mercado ou tendência. Se quero fazer algo mais parecido com um fado, faço, se acho que é mais um rap, faço, um reggae, um dun. Essa liberdade tem um preço. Foi uma escolha minha e dou-me por satisfeito com ela. Não me sinto nada frustrado por ter de trabalhar além da música e, felizmente, o que faço dá-me prazer.
Com 25 anos de carreira, estar pela primeira vez em nome próprio no Coliseu é visto como um feito?
Já tive um marco que, para mim, foi o dia mais feliz – disse mesmo lá no palco que se morresse ali, morria feliz – que foi tocar nos Aliados, com um público cheio. Estar o Porto, de onde sou, a cantar connosco foi uma experiência fantástica. Poder ter tocado na praça mais importante da minha cidade é mesmo um marco. Agora, estarmos a produzir, e em nome próprio, este evento, com o esforço e o risco que acarreta – é como um segundo sonho. Estamos a pôr som brutal, ecrãs para quem tiver menor visibilidade, filmagens em direto, convidados, mais de 20 temas, entre os quais temas novos. Está tudo a ser trabalhado para agradecer ao público e lhes poder presentear com o melhor espetáculo que já fizemos até hoje.
Nestas duas décadas e meio, mudou a forma como olha para a música que faz?
Honestamente, acho que não. A única coisa que sei que mudou – e quem me ouve desde esse tempo para hoje nota – é mesmo a idade. Escrever com 25 anos transmite uma visão das coisas e escrever com 50 transmite outra. Os temas que escolho hoje em dia estão mais focados para um pensamento interior mais desenvolvido. Em termos de som, não mudou muito porque as minhas influências continuaram a ser as mesmas. O formato de trabalhar em estúdio com a banda continua a ser o mesmo.
E o público também tem mudado?
Bastante. Claro que mantenho aqueles que me ouvem fielmente desde o início, mas sinto que há muito público novo a chegar agora, a descobrir-me nesta fase. E isso é fruto, entre outras coisas, de participações que fiz com o Deau, por exemplo, que tem menos 15 anos que eu. E até mesmo com o Rui Veloso. Quer queiras quer não, se as pessoas gostam desse artista e gostam dessa faixa que fazes com ele, acabam por te ficar a conhecer, ou pelo menos curiosas.