Aniversário do álbum "Por este rio acima" será assinalado com dois concertos em novembro, na Aula Magna, em Lisboa, cujos bilhetes esgotaram em poucos dias.
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Os bilhetes para o concerto comemorativo dos 40 anos do álbum "Por este rio acima", de Fausto Bordalo Dias , voaram de um dia para o outro . Marcado para 19 de novembro, na Aula Magna, em Lisboa, esse concerto precioso - os espetáculos de Fausto acontecem, mas não tão frequentemente quanto isso - acabou por ter uma segunda data, no dia seguinte.
Em boa hora assim foi para as 3094 pessoas (duas vezes a lotação da sala) que conseguiram um bilhete, entre elas, certamente, muitas daquelas que dizem ser este "o melhor álbum da música portuguesa". Foi o sexto de Fausto Bordalo Dias, que nele contou com a participação de músicos como Júlio Pereira e Pedro Caldeira Cabral. Foi lançado em 1982, em vinil, no selo Triângulo (Editora Sassetti) e reeditado em CD, em 1985, pela Columbia (Sony Music) - um CD duplo que já não abunda no mercado.
"Uma obra ímpar" e "uma pérola escondida" é o que se pode ler nos comentários às músicas do álbum, todo vertido no Youtube, com vários fãs brasileiros e ainda de língua espanhola e inglesa a expressar a sua gratidão a Fausto, por lhes ter aberto os portões mais trabalhados e ricos da música portuguesa.
Inspirado por "Peregrinação", de Fernão Mendes Pinto (1509-1583), que relata as viagens do cronista ao Oriente, o álbum baseia-se diretamente em alguns relatos, que são citados no livreto do disco, criando a partir deles canções que são, cada uma delas, uma singular obra-prima.
Mesmo para quem não decorou o disco, haverá sempre qualquer coisa de cognoscível nas 16 canções de "Por este rio acima". O disco fascina pela filigrana de sonoridades populares, de uma delicadeza e erudição que fazem tombar os narizes torcidos ao cavaquinho e ao bombo, aos primeiros acordes, aos primeiros toques, à primeira carícia da voz de Fausto - sincera, solene, arisca, resoluta. Nossa.
O escritor Valter Hugo Mãe recordou há dois anos, na "Notícias Magazine", a íntima e medrante turbulência que conhecer o disco, aos 18 anos de idade, lhe causou. "Senti que tudo quanto significava a maravilha podia ser aqui, podia ser português. Senti que não estava longe. Estava ao centro. No centro do mundo", escreveu então (NM, 21/09/2020).