Cinco anos da Casa da Arquitetura: Manuel Correia Fernandes e família de Fernanda Seixas doaram coleções.
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"A arquitetura está em perigo de apagamento". A frase do arquiteto Manuel Correia Fernandes foi dirigida ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, na cerimónia em que doou "62 anos de trabalho como arquiteto" à Casa da Arquitetura, em Matosinhos, ontem à tarde. No evento, inserido no programa de celebração dos cinco anos da instituição, foi também doado, pela família, o espólio da arquiteta Fernanda Seixas, uma das primeiras mulheres portuguesas a ter um gabinete em nome próprio.
Continuando na sua alocução perante uma plateia de centenas de pessoas, muitas a assistir em streaming no exterior da sala, Manuel Correia Fernandes, que foi também diretor da Escola de Belas Artes e da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, vereador do Urbanismo e parte da equipa da Porto 2001-Capital da Cultura disse que "a arquitetura é um bem cultural e de interesse público e talvez a mais antiga das Belas Artes", acrescentando que "não pode ser tudo reduzido a números".
casa do artista avança
Mas, não querendo usar o seu discurso como um "muro das lamentações", aproveitou para dar perante a plateia uma boa notícia: a Casa do Artista, em Matosinhos, projeto que deveria ter saído do papel em 2009, e que está em exposição na Casa da Arquitetura, vai ser resgatada, afiançou perante os aplausos da plateia a autarca de Matosinhos, Luísa Salgueiro.
Pedro Adão e Silva disse que "dentro das áreas culturais, no século XX, uma que é impossível não passar por Portugal é a arquitetura - pela atenção ao território e ao empenho político dos arquitetos portugueses do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local)". E acrescentou que tinha "tomado boa nota das mensagens de Manuel Correia Fernandes que não eram nada tontas".
Sobre a Casa da Arquitetura teceu que sendo uma casa "era um local onde se recebiam as pessoas e não uma casa de espólios, de depósito estático, promovendo a criatividade e leituras" . Sob essa perspetiva, quando deixar de ser ministro disse querer uma responsabilidade partilhada, e complementaridade, e que a instituição podia "contar com o apoio e reconhecimento do Ministério da Cultura à Casa da Arquitetura".
Sobre a responsabilidade, Nuno Sampaio, diretor executivo da Casa da Arquitetura, contou, em modo de anedota, que um curador brasileiro tinha ficado muito surpreendido porque, ao chegar a Portugal, um "agente lhe perguntou de quem gostava mais: se do Siza Vieira ou do Souto Moura" - o que o fez ter a ideia de que em Portugal há um grande conhecimento sobre quem são os arquitetos nacionais.
Casa da Música: instituições não podem ser estáticas
À margem da celebração, o ministro da Cultura falou ao JN sobre a comissão de reflexão, atualmente em curso, sobre a Casa da Música (CdM). Pedro Adão e Silva referiu que a CdM "ao atingir a maioridade, necessita de avaliar o seu modelo de governação porque as instituições não podem ser estáticas". Escusou-se a comentar a ideia de ter um diretor artístico nomeado por concurso, como ditou para os teatros nacionais, considerando que os organismos devem "ter autonomia nos seus órgãos". Mas, confirmou a nomeação de Fernando Freire de Sousa e do músico Mário Barreiros na inclusão da comissão que deverá apresentar as suas conclusões ao Conselho de Fundadores a 31 de março. Sobre as polémicas dos apoios sustentados da DG Artes no concurso de Artes Visuais, que levaram a que 400 entidades lhe dirigissem uma missiva, escudou-se: "Triplicaram a dotação relativamente ao concurso anterior e haverá 2 milhões para a Rede Portuguesa de Arte Contemporânea".