Sucessão de más decisões ditou a implosão do Titan com cinco pessoas a bordo.
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"Ninguém morre enquanto eu cá estiver. Ponto final”. Richard Stockton Rush, fundador da OceanGate, prometeu-o. Mas o Mundo assistiu: não cumpriu. Em 2023, o submersível experimental “Titan”, criado pela empresa americana, implodiu durante uma viagem aos destroços do Titanic, a uma profundidade de cerca de 3350 metros. Os cinco tripulantes a bordo morreram - Stockton Rush incluído – numa história de teimosia, ambição e arrogância retratada em documentário na Netflix.
“Titan: a tragédia do submersível da OceanGate” estreou a 11 de junho, com relatos impressionantes de ex-funcionários que previram o perigo iminente associado ao pensamento do CEO. “Sabia que um dia estaríamos aqui sentados. E cá estamos nós”, reconheceu Tony Nissan, ex-diretor de engenharia da instituição. O caso mais flagrante descrito na produção é o do engenheiro David Lochridge, com mais de 20 anos de experiência a pilotar submersíveis, e que foi despedido por alertar Stockton Rush para os perigos do Titan. “Eu era a única pessoa a fazer-lhe frente e a dizer: ‘têm de mandar inspecionar isto’”, contou, revelando que, quando o empresário finalmente lhe pediu para fazer uma inspeção ao veículo, não gostou das dúvidas levantadas. “Porquê testar algo com pessoas lá dentro? Para mim era arrogância”, defendeu o engenheiro, afastado logo na manhã seguinte.
Aliás, a história da empresa ficou marcada por sucessivas saídas de quem percebeu que a tragédia era uma questão de tempo. Bonnie Carl foi uma delas. Com o afastamento de David, Stockton Rush decidiu que Bonnie iria pilotar o Titan, desafio que a contabilista obviamente recusou. Na origem das dúvidas levantadas sobre o veículo estava o seu casco de fibra de carbono, material leve e económico, mas desadequado a expedições em altas profundidades. Tudo por amor ao ego e ao desejo incontrolável de ficar na história.