Casa da Arquitectura, em Matosinhos, celebra este fim de semana o quarto aniversário com vários espetáculos e iniciativas gratuitas.
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Logo pela manhã, uma multidão corre desenfreada pelas ruas de Matosinhos, perante a indagação nos transeuntes. Hoje há maratona? Será um assalto? O mistério adensa-se quando os desportistas trepam muros ou escalam as fachadas das casas para formar figuras geométricas. "Olha que dá-lhes para cada uma", comenta uma mulher que documenta o insólito com o telemóvel enquanto fuma um cigarro na porta do café.
Risonho, o dono do estabelecimento sai para a rua e comenta, "então você não vê as passadeiras vermelhas? Isto é a festa da Casa da Arquitectura". A festa não decorre só nas instalações da Real Vinícola mas em toda a cidade. Ao ver o vereador Fernando Rocha e a polícia a adensar a multidão que seguie os maratonistas/assaltantes, a mulher fica convencida e decide juntar-se à procissão. "Vou já pôr no Facebook e dizer à minha filha para vir cá ter."
A performance "Bodies in urban spaces", do coreógrafo austríaco Willi Dorner, já foi representada em mais de 100 cidades e é perfeita, porque através da geometria dos corpos, no caso intérpretes da Companhia Instável, põe em evidência pormenores arquitetónicos e possibilidades que parecem invisíveis nas cidades.
Regressados ao edifício da Casa da Arquitectura, uma estranha figura montada num barril alerta o público para uma contagem decrescente para "Ponto-traço" do Coletivo Radar 360º. Aproveitando todos os recantos da Casa, o coletivo promove uma visita deambulatória para contar a história do edifício de Clemente Menéres e também de Matosinhos, onde "a burguesia jogava ténis e, mais importante, assegurava o comércio de vinho".
A poesia, a música e o circo fazem desta companhia uma das favoritas em performances "site-specific". Uma das intérpretes, vestida de vermelho, cria a estupefação numa menina que assiste e repete à mãe, "ela é perfeita, perfeita".
Dentro de um dos armazéns, além da música ao vivo, uma performance hipnótica com arco e projeções geométricas deixa o público siderado. Bocas abertas e silêncio rapidamente interrompido por figuras de andas que dão outra escala aos edifícios, obrigando o público a ver os telhados. Nem o cheiro a pipocas e outras iguarias demove os presentes da ação dramatúrgica.
Para os mais novos, o Caleidoscópio - Serviço Educativo propõe a construção de "casas chinfrim" construídas em cartão e papel autocolante em que oscilam guizos e fitas ao vento. "Vocês foram uns grandes arquitetos", repete a assistente às crianças, embevecidas com as suas criações. O lado humano da arquitetura no seu esplendor. Este domingo ainda há dezenas de iniciativas para desfrutar.