Peça do Teatro da Didascália sobre texto de Bertolt Brecht faz alusão à ascensão dos populismos da atualidade. Está em cena no Teatro Carlos Alberto, no Porto, entre esta sexta-feira e domingo.
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Redigido em 1941, na Finlândia, “A ascensão de Arturo Ui” era a parábola de Bertolt Brecht à ascensão de Hitler e do Terceiro Reich. A personagem principal, um gangster do Bronx, remete diretamente para o führer; o seu braço direito, Ernesto Roma, para Ernst Röhm, líder das SA, a ala paramilitar do partido nazi; e toda a constelação de figuras à volta para os principais ogres do nazismo. Já a encenação de Bruno Martins, do Teatro da Didascália, quer relacionar a peça com a ascensão dos populismos na atualidade.
E não são só os populismos que ameaçam a democracia, explica o encenador, mas também os mecanismos de “espetacularização da política”.
“A excessiva mediatização de casos de corrupção, a transmissão em direto de buscas domiciliárias a políticos e governantes, ou a transformação de comissões de inquérito em programas de entretenimento, contribuem para uma progressiva degradação das instituições democráticas e alimentam o descrédito do sistema político”. Exatamente o que interessa ao discurso populista.
Ganhando especial atualidade com as notícias mais recentes, “A ascensão de Arturo Ui”, na leitura da Didascália, elimina alguns elementos da peça original: aqueles que a prendem à situação da Alemanha nos anos 1930. E mantém a dinâmica de um espetáculo de feira, com uma sucessão de quadros em que se apresentam as personagens e as diferentes fases da ação – a típica montagem do “teatro épico” de Brecht, mais interessado em que o público se foque na mensagem do que na expectativa sobre o que irá acontecer.
Arturo Ui quer controlar o negócio das hortaliças em Chicago, e para isso corrompe ou liquida os seus obstáculos. Tem a preocupação habitual do messias quando busca o poder: agradar às massas. E o marketing político, já presente em “Coriolano”, de Shakespeare, autor diversas vezes citado na peça, é um dos eixos da sua escalada.
“Não interessa o que o professor pensa, ou esta ou aquela inteligência, o que importa é como o homem comum imagina o seu senhor”. É provável que os próximos tempos tragam doses maciças desta receita.
Com interpretação de Diana Sá, Eduardo Breda, Gonçalo Fonseca, Luísa Guerra, Pedro Couto e Valdemar Santos, "A ascensão de Arturo Ui" está em cena no Teatro Carlos Alberto, no Porto, entre esta sexta-feira e domingo.
A sessão de sexta-feira é às 21 horas e a de sábado às 19 horas; no domingo, a récita é às 16 horas. Ainda na sexta, há uma conversa pós-espetáculo mediada por Mónica Guerreiro.
O preço dos bilhetes varia entre os 5 e os 10 euros.