Ao nono álbum de uma já longa carreira, os Blur revolvem o passado com ferramentas emprestadas de outros projetos.
Corpo do artigo
O álbum que assinala a segunda reunião dos Blur – que fecharam recentemente o Primavera Sound do Porto e esgotaram duas datas em Wembley – é uma longa balada de introspeção, sobre a própria banda, o seu lugar, o seu passado, os seus píncaros e subterrâneos, mas também sobre Darren, segurança do grupo, um homem comum, o que abre o escopo do disco: todos os que já passaram dos 40 apanham com estilhaços.
A sonoridade fosca, algo abafada, mas onde cintila a exuberância orquestral e o barroquismo pop, parece menos a da evolução da banda desde o último trabalho, “The magic whip” (2015), e mais o resultado da soma de experiências de Damon Albarn e companheiros nos últimos anos. O vocalista lançou quatro discos com os Gorillaz, escreveu óperas e musicais. Graham Coxon, o guitarrista, trabalhou em bandas sonoras. O baterista, Dave Rowntree, estreou-se a solo com “Radio songs”. Todas essas derivas se entranharam na pele de “The ballad of Darren”.
E, no entanto, o núcleo emocional do álbum remete para a banda que disputou o trono da britpop com os Oasis nos anos 1990. “St. Charles Square”, que tem servido de abertura nos concertos, é uma confissão: no apogeu dos Blur, Albarn descobriu a heroína: “It's grabbed me 'round the neck with its long and slender claw”. Foi também nessa fase que a banda escreveu “canções desdenhosas sobre os mais velhos”, admitiu recentemente Dave Rowntree. Na segunda parte da frase vem a fatalidade: “Elas são agora destinadas a nós próprios.”
Há uma outra perspetiva, de recuperação, em “The narcissist”, que se desprendeu como single há alguns meses. “Estou agora atento aos sinais”, canta Albarn. Mas é um consolo específico. No quadro geral, caminhamos para velhos. Ainda notamos a polarização na política (“Barbaric”) e a “autocracia senil de Putin”, como se refere Albarn ao tema de “Russian strings”. Mas o horizonte – não o musical, porque o disco mostra uma banda inquieta e ambiciosa – é agora algo indecifrável e as “Heights” não são alcançadas: a escalada suspende-se no ruído.
"The ballad of Darren"
Blur
Parlophone-Warner