Grande parte do público Super Rock não fará ideia de quem é Kevin Morby. O povo compareceu no Parque das Nações seduzido principalmente pelo funk trolha dos Red Hot Chili Peppers e pouco se interessou pelo resto. É normal.
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Não espanta, portanto, que o cantor americano - um dos melhores que nos tem chegado da cena indie do outro lado do oceano - tenha começado o concerto com uma plateia algo modesta debaixo da pala do pavilhão de Portugal.
Grande parte das 20 mil pessoas estavam espalhadas pelo resto do recinto, algumas a comer, outras a mirar o rio, muitas mais no interior da Meo Arena a ver The New Power Generation com uma aparição de Ana Moura a evocar Prince.
Para Kevin Morby nada disso foi chatice. Subiu ao palco com a sua banda e disparou as peças do recente "City music" intervaladas com o material mais antigo como "Harlem river" ou "I have been to the mountain". A guitarrista Megan Duffy ganha, mesmo sem querer, particular protagonismo no concerto: quase sempre de olhos fechados, numa postura ondulante, dispara os principais apontamentos das cordas, assim como se pintasse o ar. E Morby apenas precisa de emitir a sua (bela) voz e versos que tanto se nos falam da inquietação, das autoestradas para o céu, o deslumbre pelas coisas simples ou os pedidos de socorro para resolver nódoas negras sentimentais.
Teria sido um concerto muito maior numa sala fechada, claro, e com tempo para deixar mais canções, também, mas mesmo assim o americano depositou algumas das melhores que a pop contemplativa nos deu nos anos recentes, a saber: "Crybaby", "All of my life" ou "Parade".
Seguiu-se-lhe no mesmo palco The Legendary Tigerman, que veio apresentar as canções do novo disco a ser lançado daqui a uns meses. Esqueça-se o formato de homem solitário em palco: Paulo Furtado acompanhou-se por mais três músicos, com particular destaque para um saxofonista, e deixou óptimas pistas para aquilo que há de surgir. As suas novas canções são cheia de dinâmica, repletas de quedas abruptas e cascatas inesperadas.