Cláudia Passarinho, presidente da Associação Portuguesa de Biblioterapia.
Corpo do artigo
O que pode fazer a biblioterapia pela saúde mental?
A biblioterapia usa a literatura como ferramenta de cuidado. Promove o bem-estar, reduz o stress, estimula a reflexão, reduz a ansiedade e contribui para a redução da dor. Na prática, a biblioterapia pode apoiar ainda em processos de luto, depressão e trauma. Este instrumento, para o apoio emocional só é possível através de três elementos fundamentais: identificação, introspeção e catarse. A biblioterapia enquadra-se como complemento em processos terapêuticos e o biblioterapeuta pode trabalhar com médicos, psiquiatras, terapeutas, cuidadores, mentores, um manancial de promotores da saúde mental.
É redutora a ideia de que a biblioterapia consiste sobretudo na prescrição de livros de acordo com a pessoa a que se destina?
É importante percebermos que o biblioterapeuta prescreve, escuta e acompanha através das sessões. Dizer que apenas prescreve é simplificar a prática, porque a biblioterapia envolve uma anamnese, escuta ativa, diálogo e acolhimento. Se virmos bem, a biblioterapia trata um processo emocional, relacional e muitas vezes coletivo, através da partilha de emoções. Ler ou ouvir a leitura de uma narrativa, de um poema, por exemplo, leva à reflexão, ao entendimento das emoções, ao reconhecimento de memórias. Só conseguimos curar aquilo que conhecemos.
Muitas autarquias requisitam os vossos serviços, mas nas empresas há poucos exemplos. Como explica essa resistência?
Não me parece resistência, parece mais desconhecimento do potencial terapêutico da biblioterapia. Há cada vez mais empresas sensíveis ao bem-estar do colaborador e é fundamental que os empresários vejam a biblioterapia, ou outras práticas de promoção do bem-estar, como investimento. A médio e longo prazos, impulsionam níveis de felicidade nos colaboradores, empatia e familiaridade saudável.