Novo festival Extemporânea oferece performances e áudio caminhadas no Jardim Botânico do Porto. O programa faz parte dos 40 anos da companhia Balleteatro.
Corpo do artigo
Um espantalho, seguro com um pau nas costas e a cara coberta, como se fizesse parte do quadro "Os Amantes", de René Magritte, permanecia perfeitamente integrado no centro do Jardim dos Anões, no Jardim Botânico do Porto. Deixando sair fumo pela mangas da gabardina, criava a ilusão de estar oco por dentro, mas ali habitava um corpo que rapidamente começou, ao som da música, a ganhar forma, capturando de surpresa o olhar das dezenas de pessoas presentes na performance "Dendro", de Maria Antunes.
A peça está incluída no festival Extemporânea, que se estreou este sábado, nos 40 anos do Balleteatro.
As delicadas mãos fazem com que aquilo que eram as suas raízes se transformem numa figura crucifixada, ou num animal grotesco corcovado, que poderia perfeitamente pertencer àquele espaço onde convivem diferentes espécies. Debaixo da tela advinham-se os seus rasgos faciais e é percetível o seu sorriso. Fleumático neste habitat, o "Dendro" faz os pássaros cantar.
A performance decorre num local onde existem vários troncos cortados e não deixa de se assemelhar a um ritual pagão, onde se sabe que para florescer saudável é necessário queimar ou abandonar as frações mortas para trás e seguir caminho. Às 18 horas, Ana Isabel Castro apresentou também a sua performance "Rosa".
Este domingo, novamente às 16 e às 18 horas, será a vez de João Oliveira apresentar "Fada boa com espinhos" e Aura estrear a sua "Ofélia".
Palavras e paisagens
Os catos e as suas capacidades de sobreviver em ambientes hostis foram uma das metáforas usadas por Isabel Carvalho para o texto da sua áudio caminhada "Refinaria: as tempestades".
Ainda neste domingo, entre as 10 e as 19 horas, o público ainda pode fazer os percursos e ouvir, com recurso ao telemóvel e a QR Codes espalhados pelo Jardim Botânico, os textos de cinco autores: Isabel Carvalho, Susana Gaudêncio, Maria Inês Marques, Luca Argel e Melissa Rodrigues.
A prática quase parece uma alusão à célebre obra de Federico Garcia Lorca "A linguagem das flores". A relação entre o espaço e a temática é o pretendido no certame itinerante, feito com curadoria das irmãs Isabel e Né Barros, Flávio Rodrigues e Jorge Gonçalves, ainda no âmbito dos 40 anos do Balleteatro.
Todos os espetáculos têm entrada gratuita.