"A Casa Guinness" traça um cativante retrato de época, com soberbas interpretações e uma banda sonora ritmada que pontua a narrativa.
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27 de Maio de 1868. Em Dublin, o funeral do patriarca da família Guinness traz ao de cima todas as contradições da sua vida. Tão idolatrado por aqueles que empregou, quanto odiado pelos que nunca aceitaram as suas ideias, não é mais do que o reflexo de uma Irlanda profundamente envolta nas suas contradições internas, enraizadas e completamente opostas. Para além das diferenças no plano social, no terreno religioso católicos e protestantes levam aos extremos mais violentos as diferenças de opinião, tanto quanto acontece em termos políticos entre os unionistas defensores da aliança com os britânicos e os fenianos que lutam pela independência.
Espelho disso é a magnífica sequência inicial em que a polícia e as diferentes facções preparam o inevitável confronto que o desfilar do cortejo fúnebre pela cidade faz prever. E que estabelece desde logo dois dos pontos altos de uma série que prova como a ficção inspirada em factos reais consegue ser apelativa e apaixonante: uma realização dinâmica, assente em movimentos de câmara aparentemente isentos das leis físicas, e uma banda sonora ritmada que imprime vivacidade a uma narrativa inteligente e desafiadora, pontuada com humor e sarcasmo.