<p>Em abono da verdade, não se pode dizer que Fernanda Santos trabalhe ao sol. Tem opção. Ou fica na varanda, ao sol, ou se recolhe no interior do seu "gabinete": pequeno, transparente, móvel e a cerca de dez metros do solo. Agora, certo, certo, é que quanto mais sol, mais possibilidade tem de trabalhar. </p>
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No alto da Serra do Brunheiro, em Chaves, a vista de Fernanda Santos anda permanentemente à cata de fumo. Colunas de fumo. É que, embora nem sempre seja assim, por norma, onde há fumo há mesmo fogo. "Às vezes, é apenas poeira, mas, por norma, não dá para enganar", explica Fernanda, de 32 anos, e uma das muitas pessoas que, até Setembro, ocupa os postos de vigia que cobrem o território nacional, no âmbito da política de prevenção de fogos florestais do Governo.
Fernanda é vigia pelo segundo ano consecutivo. Faz turnos de oito horas seguidas. E sem poder abandonar o local e, sobretudo, sem poder "fechar" os olhos. Para vencer o sono da noite, quando faz este turno, socorre-se de um "cafezito mais forte". No entanto, é de dia que mais trabalho há.
Quando vê uma coluna de fogo, Fernanda "tira-lhe o ângulo", com a ajuda da mesa de ângulos, que, juntamente com uns binóculos, são os únicos utensílios que tem no posto de trabalho. Depois, via rádio, dá a localização para o Centro Distrital de Protecção e Socorro, que cruza essa mesma informação com o ângulo dado por outro vigia das imediações e, dessa forma, obtém a localização exacta do foco de incêndio. Além disso, Fernanda dá também indicações relacionadas com a cor e a intensidade.
Mas o problema mesmo é quando não há fumo, ou seja, não há trabalho. Para "matar" o tempo, Fernanda lê, vê televisão ou ouve rádio. Mas, mesmo assim, não é fácil. "Custa muito a passar as horas. Televisão só vejo um ou outro programa que gosto, às vezes trago uns livros ou oiço rádio, mas há dias em tudo me aborrece. Posso dizer que é um trabalho em que não se faz nada e que é por isso que chateia", explica. Mas, apesar disso, para a jovem de Carvela, a aldeia onde fica localizado o posto, o trabalho veio mesmo a calhar. Estava desempregada. "Antes de saber que me iam chamar outra vez para aqui, fui a Chaves, corri os restaurantes todos e não encontrei nada", lembra Fernanda, que em Carvela, alguns, já começam a chamar de "a vigia". Do que Fernanda não se pode queixar mesmo é da paisagem que consegue vislumbrar, principalmente sobre a Veiga de Chaves. "Tem razão! A vista é muito bonita!", reconhece.