Seis anos depois de terem pisado solo nacional pela última vez, os Foo Fighters regressaram ao Passeio Marítimo de Algés, esta sexta-feira à noite, para duas horas e meia de um concerto repleto de êxitos e duas canções novas.
Corpo do artigo
"Já faz muito tempo", começou por reconhecer Dave Grohl assim que os Foo Fighters subiram ao palco Nos, pouco passava da meia-noite. Pronto a "redimir-se" desta ausência prolongada - atuou há seis anos em Portugal e neste mesmo palco -, a banda liderada por Dave Grohl atirou-se de cabeça a "All my life", "Times like this" e "Learn to fly", canções dos discos de 1999 e 2002 que serviram de banda sonora a várias gerações na viragem do milénio.
8622251
A rajada portentosa de êxitos nem deixou o público respirar, entre telemóveis no ar ou pernas em cima de ombros alheios para vislumbrar melhor a banda de Seattle. "Something from nothing" aqueceu caminho para "Pretender" e Grohl deixou logo o aviso: "Vai ser uma noite muito longa. Vamos tocar o maior tempo que conseguirmos e o mais alto que pudermos". O público aplaudiu em êxtase, a banda cumpriu. Duas horas e meia de rock da melhor colheita, numa máquina oleada onde nada parece falhar, mas que não se quer formatada e deixa espaço ao improviso e descontração.
Dave Grohl revela todo o seu talento como mestre-de-cerimónias, autêntico "entertainer" quando pousa a guitarra e, gingão, se detém a trocar bolas com o público. A acompanhá-lo estão Nate Mandel no baixo; Taylor Hawkins, poderosíssimo, na bateria; Chris Shiflett e Pat Smear nas guitarras; e Rami Jaffee nos teclados. Todos são apresentados com pompa e circunstância rock, num "medley" onde foram evocados os Queen ("Another one bites the dust") ou os Ramones ("Blitzkrieg bop").
8621761
"Esta é para todos os fãs dos Foo Fighters", endereçou o vocalista antes de desfiar "My hero", um dos hinos maiores do repertório da banda e que gerou um arrepio coletivo nas 55 mil pessoas que enchiam o Passeio Marítimo de Algés. As vozes da plateia agigantaram-se para gritar "there goes my hero/ watch him as he goes/ there goes my hero/ he's ordinary", com os copos de cerveja erguidos a selar a celebração.
A primeira novidade da noite levou de regresso ao palco a vocalista dos The Kills, Alison Mosshart, para o dueto "La dee da", que integra o nono disco de estúdio dos Foo Fighters, "Concrete and gold", com edição prevista para setembro deste ano. A inequívoca química da dupla Mosshart/ Grohl, lábios colados (ao microfone), faz-nos imaginar o potencial que ainda há para explorar entre estes dois portentos do rock. A novíssima "Run", que antecipa o próximo disco do grupo, deu provas de ser uma canção talhada para o palco e forte candidata a ocupar futuros alinhamentos.
8621722
Na reta final, a vertigem emocional de "Best of you", que acordou os que se deixavam vergar pelo cansaço e provou ser uma das canções prediletas do público. Público este que foi desafiado a partilhar algumas canções ("Quero singles!") e que alinhou com hinos futebolísticos ou o hino nacional à desgarrada.
"Obrigado por me ensinarem as vossas canções", gracejou Dave Grohl, antes de se lançar à virtuosa "Everlong", a coroar o momento da despedida.
A tarefa ingrata dos The Kills
Aos The Kills coube a tarefa ingrata, mas não inglória, de subir ao palco antes dos muito aguardados cabeças de cartaz. A banda de Alison Mosshart e Jamie Hince é habitué dos palcos nacionais, tendo estado em Portugal em novembro passado para um concerto em nome próprio no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
A banda voltou à capital com o seu mais recente trabalho, "Ash&Ice" (2016), fio condutor de um concerto que fez questão de revisitar momentos altos do percurso da banda. Rock no osso, sem artifícios, ancorado nas guitarras, bateria e na animalidade sedutora de Alison Mosshart, de quem é difícil desviar o olhar. O corpo elástico a contorcer-se, o cabelo em desalinho, a voz a escapar enorme, uma "lady" do rock.
"U.R.A Fever", "Kissy kissy" ou "Baby says" foram certeiramente resgatadas aos registos mais antigos, "Hard habit to break", a guitarra amansada de Hince em "Echo home" ou a encantatória "Doing it to death" serviram para mostrar o que a banda laborou nos últimos tempos.
O público entusiasmou-se a espaços - "Doing it to death" foi disso um claro exemplo -, mas reinou uma certa apatia respeitosa, na maioria dos casos à espera que o relógio cavalgasse rapidamente até à meia-noite.
A banda não terá ficado alheia a tal facto, mas não permitiu que isso maculasse o espetáculo que deram no Passeio Marítimo de Algés.
8621498