A cidade de Pedro Fiuza, o podcast de Luísa Sobral, o disco novo de Rui Reininho, o encontro entre Robert Smith e miss Lauren Mayberry e a série sobre a vida de Halston.
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Pior do que perder uma peça de teatro que dificilmente se repetirá é não nos demorarmos no texto que a fez nascer. E mesmo se a peça não foi perdida, o texto é recurso de que não deveríamos abdicar, antes ou depois, porque nele há uma quase inesgotável possibilidade de redescoberta, pistas e fendas que nos mudam de lugar.
Pedro Fiuza (n. 1980) levou, no final de maio, ao palco do Teatro do Bolhão, no Porto, "A Cidade Muda", uma espécie de longo solilóquio, deambulação pelo corpo-cidade que somos, "mapa estranho, o destino e outras fatalidades". Escreveu e encenou um percurso que funde interior e exterior e nos leva pela mão, "as mãos estão sempre a tremer", e nos faz sentir os pés dos outros, "mas nós nunca estaremos no lugar do outro" , um texto que não confronta, enfrenta o espelho, a fragilidade e o medo que devolve, "tenho medo de morrer mas ainda assim tenho mais medo dos meus medos do que medo de morrer".
A morte atravessa as quase duas horas de peça, as quase cem páginas de texto. Na folha de sala, ele explicou porquê: "Às vezes perguntam-me porque falo tanto na morte, é simples, porque ela é inevitável. É também a morte que define o nosso tempo. Há dois acontecimentos que me definem filosoficamente a vida: o nascimento do meu filho e a morte do meu pai. Como escrever ou que teatro fazer depois desses momentos de brutalidade extrema?"
"A Cidade Muda" é também inescapavelmente um texto político, "será que o meu cérebro é político? Queria-o neutro, mas a neutralidade nunca foi tão política", um texto a pedir que nos rebelemos contra a indiferença, "as cidades são revolucionárias mas só quando está bom tempo", e nos convoca para fazermos a cidade que somos. Somos uma cidade que muda ou uma cidade que emudece? Este tão bonito texto de Pedro Fiuza está editado em livro, traz de bónus um segundo texto, "A noite vem caindo", e está disponível no Teatro do Bolhão.
Já disponível está, também, a conversa de Luísa Sobral com Rui Reininho, no maravilhoso podcast "O Avesso da Canção". Há muito que Luísa Sobral (n. 1987), voz de cristal, se afirmou como uma das mais admiráveis compositoras da sua geração, mas aqui ela revela-se uma extraordinária condutora e parceira de conversa. São conversas com guião - "O que está por trás das canções que gostamos?" - sem preocupação com o tempo, o que é raro, e com genuína curiosidade.
Ao 19º episódio, uma incursão pelo Porto (já falou com Manel Cruz, com Pedro Abrunhosa, com Capicua) fê-la estacionar no mundo cifrado, onírico e esotérico do vocalista dos GNR, que este mês lança o seu segundo disco a solo. Se em "Companhia das Índias" (2008), Reininho era o ilusionista, homem tripolar com disco cheio de espiritualidade e especiarias, "20.000 Éguas Submarinas", que será editado esta sexta-feira, dia 11 de junho, com o selo Turbina, traz-nos o Reininho inicial, o Reininho do jazz de antes dos GNR, e um meio improvável disco eletrónico, que lhe renova e reforça o pedestal. Pudesse Reininho viver para sempre.
Já há single e já há vídeo: "Animais Errantes".
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Também já há vídeo do encontro entre Robert Smith, a quem há tanto cobramos a promessa do disco novo, e o torrão de açúcar que é a escocesa Lauren Mayberry de tão boas memórias em Coura de 2014. Não é casamento de que estivéssemos à espera, o do deus dos Cure com a vocalista dos Chvrches, mas "How Not To Drown", escrita e composta por ambos, é um belíssimo "capítulo sobre o que fazer depois de se ter passado a odiar aquilo que se costumava amar". É o segundo single daquele que será o quarto álbum da banda, "Sceen Violence", que sairá no final de agosto.
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Finalmente, uma passagem rápida pela televisão, para conhecer a verdadeira história do designer norte-americano que mudou a moda mas não encontrou o momento de parar: Roy Halston Frowick (1932-1990) viveu pouco mas fez muito. "Halston", a série, estreou em maio na Netflix, em cinco episódios conta tudo.
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