Em estreia nas salas de cinema esta quinta-feira, “O atentado de 5 de setembro” revela o momento decisivo nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, com o massacre de 11 israelitas às mãos de um grupo palestiniano.
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Recriação ficcional de um acontecimento histórico, “O atentado de 5 de setembro” acompanha esse fatídico dia de 1972, quando um atentado terrorista deflagrou no seio dos Jogos Olímpicos de Munique – que, numa terrível ironia, tinham começado por ser apelidados de jogos da alegria ou da paz, numa tentativa da Alemanha em virar a página nas memórias latentes da II Grande Guerra.
Os propósitos foram interrompidos quando, nesse dia, um grupo de palestinianos radicalizados, o grupo Setembro Negro, invadiu a sede da comitiva israelita, tomando como reféns 11 dos seus atletas, que viriam a perder a vida.
O filme estreou no festival de Veneza no verão de 2024 e o "timing" poderá parecer inusual, mas a produção já estaria avançada e as filmagens concluídas quando o conflito no Médio Oriente escalou com o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro de 2023, e a subsequente guerra israelita sobre o povo e o território palestiniano, que se mantém.
Além disso, garante o realizador, o suíço Tim Fehlbaum, este é um filme sobre jornalismo: os acontecimentos da Alemanha já tinham sido retratados, incluindo por Steven Spielberg em “Munique” (2005), mas aqui não há política nem grande contexto: todo aquele dia que acordou em sobressalto ao som de tiros, até à noite em que o pior se confirmou, é relatado por uma única perspetiva, a de uma equipa de jornalistas da ABC Sports.
15 horas em direto
Os repórteres estavam preparados para a cobertura desportiva dos Jogos Olímpicos, mas atravessavam uma fase de adaptação com contornos inéditos: havia novas tecnologias e utilizavam-se pela primeira vez satélites que permitiam transmissões em direto - no filme chamam-lhes “pássaros”.
Seriam eles que se tornariam decisivos para aquela que acabou por ser a primeira grande cobertura em tempo real de uma tragédia desta dimensão, com todas as incertezas, percalços, improvisos, erros e até consequências que daí decorreram, com dilemas que ainda hoje se mantêm relevantes.
É essa visão, essa adrenalina palpável, bem como a claustrofobia da sala de controlo da ABC Sports, o lado humano dos profissionais que tentam fazer o melhor trabalho com meios e oportunidades inéditas ao seu dispor, mas que se deparam com inevitáveis questões éticas e emocionais.
Durante mais de 15 horas, Jim Mckay e a equipa de desporto da ABC cobriram o primeiro ataque terrorista ao vivo na televisão, e transmitiram tudo para uma audiência estimada em 900 milhões de pessoas.
Sob direção de Tim Fehlbaum, com os atores Peter Sarsgaard, John Magaro e Ben Chaplin, o filme está nomeado para o Oscar de melhor argumento original (Tim Fehlbaum, Alex David e Moritz Binder são os autores da história), mostrando o outro lado do espelho desse momento histórico.