A artista Ana Pais Oliveira expõe no Auditório Municipal de Espinho um conjunto de trabalhos a partir d’ “O problema da habitação”.
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“Uma casa é uma máquina de morar”, escreveu Le Corbusier (Suíça, 1887-1965), o arquiteto, por excelência, do modernismo e que soube inventar as cidades e os bairros para todos, onde a habitação era o marco. La Cité Radieuse, em Marselha, é hoje Património Mundial pela UNESCO mas foi, no contexto do pós-II Guerra Mundial e da necessidade que a França teve em resolver o problema da habitação para os muitos magrebinos, a quem atribuiu nacionalidade francesa e a possibilidade de uma vida melhor depois de séculos de colonização e ostracismo. Le Corbusier trouxe os pressupostos da Bauhaus, juntando estética e funcionalidade, e desenvolveu um projeto social que influenciou políticas de habitação e urbanismo um pouco por todo o mundo.
A pintura de Ana Pais Oliveira (PT, 1982) apresenta a consistência do uso teimoso da cor, na expressão da própria artista, e da interpretação dos referenciais visuais da arquitetura e, em particular, do que identificamos como cidades. Na abertura da temporada no Auditório Municipal de Espinho, com concerto da Orquestra Clássica de Espinho, a artista inaugurou uma mostra intitulada “O problema da habitação” em que procura refletir sobre, por um lado, a imprescindibilidade de um lugar a que chamemos casa e, por outro, sobre a sua crescente inacessibilidade. O tema motiva debates políticos, mas afeta, sobretudo, o quotidiano de muitos, aumentando a sensação de vulnerabilidade e a instabilidade social e o fosso entre classes. Na escolha que Ana Pais Oliveira faz do tema foi, por isso, inevitável a viagem até às propostas de Le Courbusier até porque, no pensamento sobre as cidades, trouxeram um universo de cor como marca estética.