Ministro da Cultura Pedro Adão e Silva passou dia no Porto a visitar projetos artísticos com comunidades em risco de exclusão social
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"Um ministro não se pode limitar a abrir e a fechar seminários e conferências", disse ao JN Pedro Adão e Silva. O ministro da Cultura dedicou o dia de quarta-feira o dia a fazer um périplo pelo Porto, a que chamou "Cultura pela Inclusão". E visitou três locais de referência na cidade.
Na companhia Do Lado de Fora, formalizada em dezembro pela Associação Apuro, reúnem-se pessoas em risco de exclusão. A maioria vive em situação de sem-abrigo, mas não sem teto - estão nos albergues noturnos e na AMI, "soluções de primeira e segunda linha", diz Rui Spranger, diretor. A companhia está também agora aberta a profissionais, ou pessoas que se queiram juntar.
Emílio atirou-se de um segundo andar, em fuga de uma idosa munida de uma vassoura e a queda valeu-lhe um braço partido. Mas isso foi noutra vida, aquela em que roubava e se deitava numa cama cheia de notas.
Também Ricardo se atirava nos seus tempos de paraquedista. Agora os dois descobriram os seus dons: um para a música o outro para a escrita. O teatro, como fazem questão de explicar ao ministro, devolveu-lhes a vida e a autoestima. Agora, aspiram uma ida para o palco do Coliseu. "E para o São João [teatro nacional] não?", interroga Adão e Silva. "Não, a gente quer é tudo em grande, nós queremos o Coliseu", responde Emílio com uma fé inabalável que se alimenta de "aplausos em pé".
Coliseu do Porto esse que, diria mais tarde Adão e Silva ao JN, vai entrar num modelo de concessão. "É uma solução muito equilibrada para investir na reabilitação", algo acordado entre a tutela e a autarquia. No fim deste mês, entrará a nova direção, com Miguel Guedes, desta feita nomeada pelo município, no final da Assembleia Geral, agendada para o fim do mês.
Eduardo Faria, da Varazim Teatro aproveitou a visita do Ministro ao Porto, para o interpelar na porta da Junta de Freguesia do Bonfim dizendo que o "ministério lhe deve 20 mil euros, do Garantir Cultura que lhe deviam ter sido pagos em outubro".
"Estou há quatro meses sem receber salário, daqui a pouco quem vem fazer teatro para aqui como sem abrigo sou eu. Isto não é brincadeira", disse ao JN.
O ministro disse-lhe :"enquanto eu for ministro haverá cada vez mais recursos para a Cultura, é o que lhe posso garantir".
O ministro foi "tio"
Adão e Silva prosseguiu o seu périplo pela INCukTurar-te, projeto promovido pelo Clube Fenianos Portuenses vocacionado para a integração de grupos em risco de marginalização social. Através da parceria com o Teatro Experimental do Porto (TEP) e instituições de solidariedade social, o programa divide-se em várias áreas artísticas, da música ao teatro e à fotografia.
Vítor Pinto, presidente dos Fenianos, demonstrou exaustivamente as atividades que decorrem no espaço. Um grupo de jovens da Pasteleira, de 14 e 15 anos, a frequentar uma oficina de fotografia, explicaram a Adão e Silva e à Secretária de estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, a diferença entre os "políticos -pessoas essenciais e as pessoas normais". Uma ideia que os governantes logo desmistificaram, demonstrando que todos são importantes.
Adão e Silva teve ainda oportunidade de fazer de "Tio" no ensaio do grupo de seniores de "Dona Rosita a solteira - A linguagem das flores", de Federico García Lorca, dinamizado pelo TEP, e de descerrar a placa de reabilitação da sala António Pedro. Uma reabilitação feita com fundos da Direção Regional de Cultura do Norte.
O ciclo "À volta do piano", de Francisco Monteiro, reuniu um grupo de cegos, amblíopes e seniores, e a presidente da ACAPO prometeu aumentar a acessibilidade nos Fenianos e um projeto de "Ensaios falados", uma espécie de "radionovela". Aqui o ministro disse não acreditar "no amor à primeira vista" na Cultura, acrescentando "é preciso experimentar primeiro para ver se se gosta". Logo, Ana, bem posta na primeira fila e no alto dos seus 86 anos, atirou-lhe: "Olhe que não, eu é a primeira vez que estou aqui e estou a adorar".
O périplo da inclusão terminou com o projeto da companhia Erva Daninha, nas oficinas do Centro Educativo de Santo António, onde esteve também a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro, que aproveitou para saber as aspirações dos jovens institucionalizados.
Para fazer mortais, na formação circense, como na vida e na sociedade, é necessária confiança e espírito de equipa asseguraram as equipas. "A questão do grupo é inerente ao circo, porque nada disto pode ser feito sozinho", salientou Vasco Gomes, da Erva Daninha.